Há apenas três formas saudáveis de olhar para a realidade: mitificá-la, estruturificá-la e relativizá-la. A melhor solução é aplicar em simultâneo e ao extremo a receita tripla e ficará assim garantida a felicidade terrena. O primeiro e principal teórico da 'Felicidade Explicativa' (um tipo de felicidade que em paralelo ajuda a explicar tudo o que nos rodeia) foi Julien Fetucci, um suiço residente em Genéve e que deixou a sua empresa de private equity, que vendeu a um russo depois da falência do Lehman, para se dedicar à difusão das suas teorias. Julien tinha surpreendido meio mundo no início dos anos 90 quando publicou um pequeno opúsculo intitulado 'O mundo é uma tosta mista' onde apresentava várias grelhas de 'mitos-estruturas-relativizações' que deveriam enquadrar todo o potencial humano de Felicidade-Explicativa, a sua 'Explainepiness'.
Todo este conceito se baseava numa combinação circular de premissas que para o Dr. Fetucci (que tinha defendido uma tese de doutoramento nos anos 70 em bio-neurologia sobre a interacção entre o nível de ocupação da bexiga e a capacidade de pensar) era crucial: 1) sem explicações não há equilíbrio ; 2) sem equilíbrio não há conjunto; 3) sem conjunto não há absolutos; 4) sem absolutos não há relativos; 5) sem relativos não há felicidade; 6) sem felicidade não há explicações.
Julien considerava que existia uma grelha base de 3x3x3 a enquadrar: os 3 tipos de mitologias constitutivas: o bem, a verdade, a eternidade; com os 3 tipos de estruturas base: explorativa, libertária, concertativa; e com os 3 tipos de relativizações fundamentais: 'podemos sempre piorar', 'todo o verso tem reverso', 'nada é realmente importante'.
Nesta fase de criação duma identidade teórica J. F. teve um opositor férreo no ex-escritor de policiais grego Seitaridis Papasogrelus, que era apologista duma teoria concorrente, a 'Happyxplainig' que defendia uma clara ascendência do mecanismo explicativo sobre a felicidade itself, menosprezando por isso a componente mitológica, ao que não era certamente alheia uma alergia a queijo feta que lhe sobreviera depois duma salada ingerida numa pizza hut em Creta quando tinha 11 anos e 3 meses. Papasogrelus tornara-se 100% carnívoriano e deixou a sua importante obra a meio quando faleceu de congestão após um entrecosto mal marinado. Não deixou seguidores.
A Explainepiness de Julien Fetucci começou a fazer furor quando foi adoptada pela jornalista lombarda Cristina Lazaroni aquando do seu artigo e investigação de fundo sobre a 'invulgar capacidade das cabeleireiras serem felizes'. Cristina descobriu que as cabeleireiras da Lombardia estruturavam a sua vida neste triângulo fetucinico: «um penteado pode ser eterno se com um espírito livre percebermos que nada é mais importante do que uma boa madeixa»; Cristina Lazaroni descortinava neste enunciado que no espírito da cabeleireira lombarda se enraizava uma matriz com: um mito de eternidade, uma estrutura libertária e um relativismo de importância, uma das combinações possíveis da 'tosta-de-julien', como ela lhe chamou.
Lazaroni e Fetucci deram uma série de conferências pelo norte de Itália e ficaram conhecidos como a dupla da tosta-matriz, ao que não seriam certamente alheios os posters de divulgação desenhados por Gomez Suazo, um hondureño radicado em Milão que ficara famoso pela sua campanha dos dossiers de argolas da Armani. (a imagem foi encontrada numa carvoaria de Nápoles, daí a fraca qualidade da imagem)
Em Julien Fetucci havia uma genuína rejeição dos tremendismos, ('a qualquer momento o mundo acaba-se') dos vulgarismos, ('nós é que só sabemos complicar tudo') e dos mesmismos ('isto anda tudo ao mesmo') e realmente acreditava que uma estrutura equilibrada e lógica de mitos devidamente relativizada era meio caminho para uma felicidade duradoira com o bónus da explicação do mundo.
A crítica mais dura a Julien era a de que ele mais não fazia do que voltar a uma fórmula já experimentada por civilizações ancestrais, com olimpos, cavernas & banhos turcos na crista da onda, ao que ele respondia sem hesitações: na busca duma felicidade explicativa há duas vias que parecem semelhantes: a via helénica que se fundamentava num circuito realidade-ilusão-realidade e a minha via que se assume sobre uma base flutuante de ilusão-quase-realidade. «Eu sou um homem dos quases», dizia frequentemente. «Os meus protões são os quases» foi precisamente o titulo do seu ultimo livro, que fez imenso sucesso na comunidade suiça de físicos e matemáticos pois explorava, no entender desses cientistas, uma formulação alternativa daquilo a que chamavam 'a nova economia do átomo', ou seja, o átomo procurava o seu equilíbrio sempre numa combinação entre a sua estrutura e a sua possibilidade, balançando entre o mito do sempre e o relativismo do nada.
Enfim, como diria o Nozolino depois de sair do barbeiro, exijo que este post não conste no historial deste blogue.
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