Quando Deus inventou a mente humana apetrechou-a imediatamente de dois componentes fundamentais: a mentira e a vergonha. Sem eles o homem vegetaria num jardim de plástico onde os cães iriam alçar da perna para apreciar o troar do mijo. Abençoada a capacidade de chamarmos magro ao gordo, estúpido ao inteligente, novo ao velho e bonito ao feio. Demos graças por tremermos por dentro à mais leve ameaça de sermos considerados incompetentes pelos nossos filhos, imorais pelos nossos pais, flatulentes pelos nossos vizinhos. A muito pouco devemos mais do que à mentira e à vergonha. A coragem e a lealdade saberiam a palha, o amor e a amizade seriam quimeras de batráquio. A primeira mentira e o primeiro rubor são os segundos baptismos da alma, como irmãos que beberam do leite da mesma loba e fundaram as raízes da liberdade humana.
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