Demi-douzaine pour les vacances


O dicionário não ilustrado (entradas 1315 a 1320) avança com os n+1 do verão do nosso contentamento:

Segundas Intenções – Como apenas Deus alcança escrever direito por linhas tortas, o mais próximo que lá chegamos é falar dizendo aquilo que não queremos dizer. Podemos contudo ficar descansados pois o inferno está cheio, sim, mas é de boas e primeiras.


Terceiro Mundo – Ainda assim com direito a pódio, este mundo é onde os outros dois vão buscar as medalhas de bom comportamento. Paraíso para missionários, enfermeiras, estatísticos e fabricantes de tendas, é o melhor local para as nossas boas intenções - acima insinuadas -poderem treinar os músculos sem apanhar nenhuma distensão. Pelo sim pelo não, mandar o Guterres como batedor.


Quarto Poder – Com os primeiros três poderes esgotados de tanto serviço ao Bem Comum, este quarto pegou nas boas intenções que ainda sobraram de cima e decidiu dedicar-se à maldade privada, oferecendo um telecomando de brinde para os súbditos poderem escolher o desenho das sobrancelhas e a maquilhagem da pivot.


Quinto Império – Como finalmente decidimos quais os senadores com os quais podemos cozinhar um bom triunvirato: Isaltinius, Felgueirius e Valentinus, já podemos encomendar o leite de burra e escolher uma sevilhana para fazer de Cleópatra. Invasões pelo google maps, nomeação de governadores pelo twitter e tele-escola pelo youtube.


Sexto Sentido – Dado que os outros cinco ficaram aquém de nos decifrar o mundo convenientemente, este tesouro escondido da psique humana ir-nos-á libertar do pobre sensorialismo da nossa condição, revelando-nos o El Dorado que ainda resiste dentro de nós. Melhor que um inconsciente envernizado, que um dedinho adivinhador, que um Rebelo de Sousa, ou mesmo que um kit de Cassandra, ainda será este sentido extra que salvará a espécie de viver às apalpadelas a dizer q ‘isto não está a cheirar nada bem’.


Sétima Arte – E um dia, já todos sentados, depois de fechadas as luzes e com a lanterna mágica apontada para um fantasma vestido de cerimónia plasmado numa parede lisa, somos informados por uma voz abafada: Diogo Morgado faz de S. José enquanto Al Pacino faz de Herodes. Não sei se será preciso dizer mais alguma coisa.

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