A frase do título (da Epistola de S.Paulo aos Romanos) está escrita num placar verde-garrafa instalado na A1 quase à saída de Lisboa. Deverá tratar-se de mais um apelo insinuante de alguma 'igreja evangélica', tentando vir a entrar na alma ( e se calhar bolso) do automobilista pelo flanco peri-apocalíptico, ou seja, apelando ao espírito de intocável que qualquer cristão dalguma forma transporta e qualquer pagão aspira.
Desde sempre que o cristão teve de incorporar na gestão da sua vida o problema das ‘forças do mal’, e, talvez mais rebuscado, o problema do sinal e do castigo. Nenhum católico (digo católico porque tenho dificuldade – por desconhecimento - em entender a alma protestante) poderá certamente dizer que nunca atribuiu (sentiu) algo de mal que lhe aconteceu (a ele ou ao mundo) como uma manifestação clara duma admoestação de Deus.
A manifestação da vontade de Deus na criação é um grande cabrão dum mistério. Mas ninguém se dispensa de ir dando palpites. Precisamos mesmo destes palpites para equilibrar interiormente a nossa vidinha. Ninguém – crente ou não - se consegue alimentar permanentemente de livre arbítrio; nenhum estômago aguenta.
O comunismo, as guerras mundiais, a sida, o terrorismo, a mais recente crise da ganância, as alterações climáticas, e agora, fresquinha fresquinha, a gripe porcino-global: é impossível que não perpasse de vez em quando pelas nossas santas alminhas que se tratam de sinais de Deus. (*) Estranhamente o mal exige mais causalidade que o Bem.
Faz parte da formação dum católico ir tentando equilibrar esta frágil casquinha d’ovo da nossa condição, ou seja: isolar do convívio diário o conflito entre o desígnio de Deus (a clara) e a liberdade do homem (a gema). Consegue-o a espaços; durante o sono.
Ao exigir a Deus que fique de braços cruzados depois de tanto esforço (criação, apaparicanço de povo eleito, redenção sem acompanhamento das televisões, cismas na igreja, etc etc) pede-se-lhe uma perfeição só ao alcance dos deuses menores. Ou seja, basicamente ninguém acredita que não ande aí a Sua Mãozinha. Não sabemos se anda, mas o pessoal não pára de desconfiar.
É então aqui que entra aquela noção de intocabilidade ontológica que a fé fornece. Ali a meio caminho entre o misticismo e as drogas leves, esta espiritualidade da ‘entrega nas mãos de Deus’, essa confiança no seu tripé providência-misericórdia-protecção, são marcas distintivas do catolicismo, (e cristianismo, vá) e são algo que irrita imenso quem esteja ao lado e veja em Deus apenas uma boa cabala manipulatória para deficitários de boa hormona.
Nunca terá irritado tanto como hoje a visão católica do mundo. Nós, os católicos, mais baralhados que nunca, buscamos e damos agora as respostas mais simples, num back in basics fodido de acompanhar: amai-vos, respeitai-vos, cuidai dos mais necessitados, e não vos deixeis levar pelo barco dum progresso que parece não fazer questão de ter alguém ao leme.
O cristão cola o optimismo com o pessimismo numa união verdadeiramente de facto: nenhuma espiritualidade consegue esse pleno de juntar a morte à vida, de fazer conviver o aqui com o aquém, a falha com a graça. Nada como o catolicismo consegue pôr as duas dimensões (que sto agostinho ‘inventou’) a rodarem num mesmo carrossel. Como o Par e o Ímpar a beijarem-se na roleta.
Antes um incómodo sinal de Deus na mão que dois livres arbítrios a voar.
(*) note-se, por exemplo, num post recente do ‘natureza do mal’ em que - de forma até engraçada - ele ironiza sobre as contingências higiénicas no culto religioso da Igreja, apenas um comentário se regozija com a graçola ( e é dum gajo de Penacova), o resto da sua vasta audiência acagaçou-se um pouco de se meter com o Deus da água benta, num post que até pedia mais comentários, designadamente as luvas Jodarte serem uma merda.
Desde sempre que o cristão teve de incorporar na gestão da sua vida o problema das ‘forças do mal’, e, talvez mais rebuscado, o problema do sinal e do castigo. Nenhum católico (digo católico porque tenho dificuldade – por desconhecimento - em entender a alma protestante) poderá certamente dizer que nunca atribuiu (sentiu) algo de mal que lhe aconteceu (a ele ou ao mundo) como uma manifestação clara duma admoestação de Deus.
A manifestação da vontade de Deus na criação é um grande cabrão dum mistério. Mas ninguém se dispensa de ir dando palpites. Precisamos mesmo destes palpites para equilibrar interiormente a nossa vidinha. Ninguém – crente ou não - se consegue alimentar permanentemente de livre arbítrio; nenhum estômago aguenta.
O comunismo, as guerras mundiais, a sida, o terrorismo, a mais recente crise da ganância, as alterações climáticas, e agora, fresquinha fresquinha, a gripe porcino-global: é impossível que não perpasse de vez em quando pelas nossas santas alminhas que se tratam de sinais de Deus. (*) Estranhamente o mal exige mais causalidade que o Bem.
Faz parte da formação dum católico ir tentando equilibrar esta frágil casquinha d’ovo da nossa condição, ou seja: isolar do convívio diário o conflito entre o desígnio de Deus (a clara) e a liberdade do homem (a gema). Consegue-o a espaços; durante o sono.
Ao exigir a Deus que fique de braços cruzados depois de tanto esforço (criação, apaparicanço de povo eleito, redenção sem acompanhamento das televisões, cismas na igreja, etc etc) pede-se-lhe uma perfeição só ao alcance dos deuses menores. Ou seja, basicamente ninguém acredita que não ande aí a Sua Mãozinha. Não sabemos se anda, mas o pessoal não pára de desconfiar.
É então aqui que entra aquela noção de intocabilidade ontológica que a fé fornece. Ali a meio caminho entre o misticismo e as drogas leves, esta espiritualidade da ‘entrega nas mãos de Deus’, essa confiança no seu tripé providência-misericórdia-protecção, são marcas distintivas do catolicismo, (e cristianismo, vá) e são algo que irrita imenso quem esteja ao lado e veja em Deus apenas uma boa cabala manipulatória para deficitários de boa hormona.
Nunca terá irritado tanto como hoje a visão católica do mundo. Nós, os católicos, mais baralhados que nunca, buscamos e damos agora as respostas mais simples, num back in basics fodido de acompanhar: amai-vos, respeitai-vos, cuidai dos mais necessitados, e não vos deixeis levar pelo barco dum progresso que parece não fazer questão de ter alguém ao leme.
O cristão cola o optimismo com o pessimismo numa união verdadeiramente de facto: nenhuma espiritualidade consegue esse pleno de juntar a morte à vida, de fazer conviver o aqui com o aquém, a falha com a graça. Nada como o catolicismo consegue pôr as duas dimensões (que sto agostinho ‘inventou’) a rodarem num mesmo carrossel. Como o Par e o Ímpar a beijarem-se na roleta.
Antes um incómodo sinal de Deus na mão que dois livres arbítrios a voar.
(*) note-se, por exemplo, num post recente do ‘natureza do mal’ em que - de forma até engraçada - ele ironiza sobre as contingências higiénicas no culto religioso da Igreja, apenas um comentário se regozija com a graçola ( e é dum gajo de Penacova), o resto da sua vasta audiência acagaçou-se um pouco de se meter com o Deus da água benta, num post que até pedia mais comentários, designadamente as luvas Jodarte serem uma merda.
3 comentários:
"consegue-se a espaços durante o sono."
só se for isso! :)
mas, voltando ao catolicismo, não sei se, para a generalidade dos católicos, há essa percepção da integração do bem e do mal. Há dois dias e três noites que ando a pensar nisso. E vejo que não o tenho feito.
confessei-me, pronto!
ps - quando é que se deixa desta mariquice de moderar os comentários? é que me sinto intimidada com isso.
beijinhos :)
MC 1 - acho que haverá o 'drama' dessa integração, sim... não vejo como fugir disso.. a não ser de facto no sono...bem, e com um prato de pastelinhos de bacalhau, claro..
MC 2 - essa agora! não vai perder pela demora
bjs :)
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