L’Homme de Trente Ans

Dalguma forma tenho imensa pena. Mesmo. Ou, reformulando num tom mais pragmático: tenho pena de que nos meus trinta anos (‘nos meus trinta anos’ será sempre uma boa expressão) não existissem estas merdas; reparem nisto: aos trinta anos um tipo é parvo com muito mais frescura (e nem queiram saber aos 25), tem uma piada muito mais radicalóide, arma muito melhor as broncas; tem-se uma impaciência mais crocante, mais descomprometida com a memória, menos fodas mal dadas, menos pudores de paternalismo, verbolina mais berrante, pode-se arriscar com sentimentos que ainda não se precisou de reprimir ou enquadrar (foda-se ‘enquadrar’- essa palavra nem era precisa aos 30 anos), dostoievski e camus estão ainda viçosos, e a filha da puta da alma está bem mais diamantina; eu ainda via uma Karenina em cada mulher que me descarrilasse em cima, e apenas via um Freitas do Amaral em cada gajo gordo e chato. Dalguma forma tenho pena que certas músicas de hoje não tenham aparecido quando eu tinha 30 anos, certos livros, certas exposições, certos políticos, certos escândalos, certos terrorismos, certas indiferenças; praticamente tudo estava ali à espera que nós o inventássemos. 30 aninhos, foda-se. Já não se é sashimi e ainda não se é entrecosto; até Jesus se pirou nessa altura. O ‘tempo não se move’, dizia ontem Manuel de Oliveira na televisão. Pois não, o cabrão. Quem não tem pena atire a primeira pedra. Se tivesse a merda das quotas em dia hoje ia votar nos lagartos; chateia-me para o ano ir outra vez ficar em segundo.
E agora uma palavrinha para a santa maturidade, mais a sua serena sabedoria: ide ver se chove que hoje até vos entretínheis.

3 comentários:

Anónimo disse...

Uma perguntinha: aqui a baiúca foi de férias?

C.

aj disse...

respostinha: afeiçoei-me ao período de reflexão

Anónimo disse...

Pena.

C.