Almoços Grátis [1]

Entrei, estava meia casa. Uns, os do costume, outros, ocasionais; uns adaptados, outros, via-se bem, não. Para comer, todos. Todos menos eu. Eu realmente estava lá para observar, ter de comer era o preço que pagava para ver. Polvo era hoje o prato do dia. Gosto quando polvo é o prato do dia, os olhos dos comensais têm um brilho diferente e a silhueta de L. torna-se mais ondulante. L. é uma das empregadas. Diz-se, dizem, ouvi, que ela tinha um amante secreto entre os clientes. Faziam-se apostas sobre quem seria. Todos apostavam primeiro em si próprios. Eu também apostava que apenas poderia ser eu.
Hoje não comi o prato do dia, optei por vitela estufada. Ninguém mais estava a comer vitela estufada e assim eu poderia distinguir-me. Uma forma de alguém se distinguir é por comer coisas diferentes dos outros. Deve ser assim desde o princípio dos tempos. Mas hoje não foi ela que me veio servir a vitela. Não é um bom sinal, não. Um rapaz, - sem nada que o distinguisse de especial - dos ocasionais, pediu-lhe lulas estufadas. L. riu-se com satisfação. Eu podia perfeitamente ter pedido lulas também. Até suporto melhor lulas do que vitela estufada. Porra; será que as lulas poderiam ter feito a diferença?

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