Se bem que ninguém me tenha perguntado, o vasto auditório ficou certamente curioso em relação aos métodos de Garibaldi Soveral. E eu, evidentemente, não tinha contado tudo o que sabia. Por vezes temos de mastigar bem a informação para não nos engasgarmos
Soveral ficara marcado, e até mesmo fascinado, por uma descoberta: certas pessoas tornavam-se mesmo boas pessoas só por pensar que eram boas pessoas. Numa primeira fase julgou tratar-se apenas duma ramificação do mecanismo da dissonância cognitiva, mas rapidamente percebeu que as auto-avaliações morais tinham um potencial altamente ficcionável e, surpreendentemente, encaixavam sempre nos perfis de personalidade e de socialização que nem uma luva. Garibaldi sentiu-se como um espeleologista perdido que de repente tinha descoberto uma frecha de luz. (esta imagem é dele, apenas a replico sem quaisquer intenções de apropriação) A mente humana – lato senso – era afinal essencialmente uma história. Mas uma história com exigências de sentido e significado. Ele seria El gran Significador.
O seu primeiro paciente, perdão cliente, - Garibaldi sempre quis deixar claro que vendia uma solução psico-moral e não uma terapia - padecia dum clássico problema de egoísmo patológico não evolucionista. (existe um egoísmo próprio da preservação da espécie, género: antes fodermos que mijarem-nos em cima, etc). Começou por definir-lhe sequências de comportamentos de autodefesa, depois elevou-os à categoria de histórias responsáveis de sobrevivência, depois deu-lhes um toque daquele heroísmo que há afinal em cada acção humana que, como se sabe, está impregnada e vocacionada para alguma queda existencialista, e fechou com um simples episódio de delicadeza de circunstância que, em minutos, transformou num momento de total e desinteressada entrega ao próximo. Foi tão, tão, fácil que no dia seguinte o seu cliente andava pela rua como um Francisco Xavier a raspar calos de tuberculosos nas margens do Ganges. Estava criado o método.
Garibaldi nunca mais parou. Desfazia mitos entranhados de ruindade quase paranóica em duas sessões de mero reenquadramento moral de uma ou outra lágrima que quase se tivesse extravasado do saco. A metacatabolização (o termo é dele, desculpem) de sentimentos tornou-se a técnica mais importante e segura da sua assessoria. ‘Dá-me um sentimento jeitoso e eu faço de ti uma tábua da lei com pernas’ chegou a ter inscrito à entrada do seu escritório, no início da sua carreira de Arquimedes da moral. O Soveral.
Nunca teve uma reclamação. Nunca teve um serviço que se arrastasse. Nunca teve uma recaída. A elasticidade moral da alma humana é um relógio.
Soveral ficara marcado, e até mesmo fascinado, por uma descoberta: certas pessoas tornavam-se mesmo boas pessoas só por pensar que eram boas pessoas. Numa primeira fase julgou tratar-se apenas duma ramificação do mecanismo da dissonância cognitiva, mas rapidamente percebeu que as auto-avaliações morais tinham um potencial altamente ficcionável e, surpreendentemente, encaixavam sempre nos perfis de personalidade e de socialização que nem uma luva. Garibaldi sentiu-se como um espeleologista perdido que de repente tinha descoberto uma frecha de luz. (esta imagem é dele, apenas a replico sem quaisquer intenções de apropriação) A mente humana – lato senso – era afinal essencialmente uma história. Mas uma história com exigências de sentido e significado. Ele seria El gran Significador.
O seu primeiro paciente, perdão cliente, - Garibaldi sempre quis deixar claro que vendia uma solução psico-moral e não uma terapia - padecia dum clássico problema de egoísmo patológico não evolucionista. (existe um egoísmo próprio da preservação da espécie, género: antes fodermos que mijarem-nos em cima, etc). Começou por definir-lhe sequências de comportamentos de autodefesa, depois elevou-os à categoria de histórias responsáveis de sobrevivência, depois deu-lhes um toque daquele heroísmo que há afinal em cada acção humana que, como se sabe, está impregnada e vocacionada para alguma queda existencialista, e fechou com um simples episódio de delicadeza de circunstância que, em minutos, transformou num momento de total e desinteressada entrega ao próximo. Foi tão, tão, fácil que no dia seguinte o seu cliente andava pela rua como um Francisco Xavier a raspar calos de tuberculosos nas margens do Ganges. Estava criado o método.
Garibaldi nunca mais parou. Desfazia mitos entranhados de ruindade quase paranóica em duas sessões de mero reenquadramento moral de uma ou outra lágrima que quase se tivesse extravasado do saco. A metacatabolização (o termo é dele, desculpem) de sentimentos tornou-se a técnica mais importante e segura da sua assessoria. ‘Dá-me um sentimento jeitoso e eu faço de ti uma tábua da lei com pernas’ chegou a ter inscrito à entrada do seu escritório, no início da sua carreira de Arquimedes da moral. O Soveral.
Nunca teve uma reclamação. Nunca teve um serviço que se arrastasse. Nunca teve uma recaída. A elasticidade moral da alma humana é um relógio.
6 comentários:
Já experimentou Red Bull? Pode ser que as asinhas lhe façam jeito...
C.
acha-me então (com a escrita) demasiado preso, pto...
Referia-me ao Soveral.
C.
o Soveral só bebia sumol de ananás.
É tempo de comprar outra garrafa...
Gostei.
Saúde,
Obrigado. Saúde!
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