Dou-me bem com a religiosidade miserável. Gosto de igrejas com gente sofrida, de pele enrugada, olhar escondido e pecados à flor da dita, apenas procurando carinho na madeira polida do genuflexório, e disponíveis para dar um bocado do seu braço por troca duma alma ainda na fase dos caboucos. Gente que dá uma na chaga e outra na cicatriz; não acredito em angústias limpas, dúvidas musicadas, teologias libertadoras, credos em cinemascope. Mas também gosto daquela pequena baba da hipocrisia, do esgar do escrúpulo, da gente que pensa conseguir lavar a alma com meia hora de cheiro a cabelos oleosos. No fundo o catolicismo adapta-se bem a gente, como eu, pouco esquisita. Gosto da parte estúpida da fé, da boca cheia de palavras de sentido e gosto duvidoso, do dogma desnecessário, da ameaça escatológica. O que seria da fé cristã se não pudéssemos pensar em Deus morto por nós na cruz enquanto desesperamos por uns bons pastéis de bacalhau. O que seria da fé sem a incompetência para perceber o mundo. O que seria da graça sem a desgraça.
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22 comentários:
acho mal que ninguém te comente este
Felix. M.
por-queque-não começas tu?
eu queria comentar, mas aquela bolinha vermelha ... é estranhamente dissuasora.
de forma sucinta: é uma parvoíce na linha de, várias, anteriores
Felix
ora a bolinha... digamos que serve apenas para cumprir as regras do audiovisual alertando as almas mais sensíveis ao despudor religioso
sendo António Sucinto praticamente o meu nome artístico, muito agradecia q delimitasses o conceito de 'parvo'
'Parvo' a norte faz fronteira com ignorante, e a sul com pobre de espírito.
Dispõe sempre, Felix
Registo escapatórias a nascente e a poente
sim, e como te consideras 'pouco esquisito' qualquer buraco te deve servir.
Felix
a fé está entre o poço e a trincheira, sim, é verdade
Aprecio o teu esforço com as metáforas, mas limitam-se a doirar a pílula. Isso que tu apresentas no post não passa duma retórica de entretenimento: ninguém vive assim fé nenhuma a não ser que esteja maluco ou a soldo dalgum jornal de escândalos.
F.
Agora deste demasiado o flanco. Conheces o fenómeno religioso pelo que diz o padre melícias, não?
agora o que tu melecias era que eu te mandasse à melda, mas ainda assim vai esta: sem a caridade (vestida de filantropia ou do que tu quiseres) a teologia e a piedade não servem nem para limpar o cu a meninos.
F.
talvez se esteja a confundir fé e prática religiosa. Embora seja grande tarefa separar águas.
Estou a referir-me ao diálogo entre F e AJ. Porque o post do AJ vale mais pelo significado que tem para ele a prática da fé do que para alguém que queira daí tirar alguma referência.
No meio de todas as metáforas compreende-se o desabafo de alguém que vive a fé sem crispações. Talvez um católico mais consumista..não sou eu que vou atirar pedras.
Um ideia simples mas que pode tomar como presente da quadra: que tal convidar o F. de Felix a escrever no seu blog? Enfim, pª termos qualquer coisita de novo e interessante que ler...
C.
Eina.
MC, .. aishhh...e o meu sonho que era mesmo ser referência!! :)
C., o Felix julgo que será incapaz de recusar tamanho desafio; mas a timidez, misturada com gosto pelo escândalo, por vezes atraiçoam-no.
F., apetecia-me responder-te à letra, mas agora não posso porque estão aqui senhoras.
Sim, sim, pois, pois. Até fica bem escandalizares-te com a expressão ‘limpar o cu a meninos’. Mas estas catacumbas parecem-me o sítio certo para alguém chamar a atenção deste gajo que nem tudo se resolve com uma de paleio e duas de laracha. Nem a fé (seja a prática, seja a teórica) devia servir de roteiro para aliviar a cabeça de ideias que façam comichão aos nervos.
F.
:) à vontade: mulher honrada não tem ouvidos e aqui nem olhos, e barriga e nada, prontos!
sei que não. mas o catolicismo é vocacionado para o rebanho: ninguém gosta de ser sozinho ou viver na fronteira. Ainda asim, o catolicismo permite um anonimato na prática religiosa que por sua vez permite o tal consumismo. bom mas eu não quero dizer que o A, o seja. Não me bastava este post para deduzir isso. eu passei anos a dizer que ainda havia de o ser. estou quase lá.
Bem, convenhamos que antes rebanho que matilha! Pelo menos rende mais no ensopado. :)
(por acaso até acho que é mais importante o fenómeno da 'universalidade' do que o do 'rebanho')
Olha lá ó eFzinho, e vocelência alivia com quê?
não te enerves; eu só alivio com químicos, a transcendência sempre me deu azia.
F.
foi comida à bruta, só pode.
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