gogol moments

A melhor coisa para se ter memória é dum cheiro. Melhor que música, melhor que palavras, melhor que fintas do maradona, melhor que festas no cabelo. Um cheirinho, um cheirão, um odor penetrante, essa filh’da puta de sensação que nos impregna o ser até ao tutano, passando por todo o lado sem pedir licença nem deixar cartão de visita. Daí que seja tão bom cheirá-lo de vez em quando sem ser com a memória, cheirá-lo de nariz mesmo, fazer loopings d'olhinhos, recarregar a alma dessa coisa que depois – já se sabe - nos vai perseguir como um rinoceronte insolente a fazer estremecer as entranhas. Se me roubarem esse cheirinho vou ter com o Criador e peço-lhe explicações. Por enquanto passeio-me por dentro, mostrando-lhe os melhores recantos, os sítios onde quero que esse cabrãozito fique sossegadinho à espera de que eu o chame quando mais precisar.

(fotografia gamada em joyceimages.com)

6 comentários:

Anónimo disse...

A memória olfactiva é a mais poderosa e persistente, porque também a mais arcaica, das memórias.

C.

Anónimo disse...

bem, eu, basicamente, então, ainda não devo ter saído da fase arcaica.

Anónimo disse...

Oops... tem a certeza que a imagem não foi gamada em juicyimages?

C.

Anónimo disse...

ora ora, nos dias que correm a suculência é muito enganadora!

Anónimo disse...

Gogol moments: Pra jázinho, um armazém de fruta lá para as bandas de Alcobaça, algures nos anos 70: um cheiro intensíssimo a maçãs verdes; Logo, logo de imediato: café fresquinho/quentinho da manhã a rivalizar com o aroma forte do quarto e quase em ex aequo maresia, muita maresia e algum protector solar ... Muito, muito bom: este gogol moment que me levou ao meu.

Anónimo disse...

isso é um tríptico de categoria: fruta, café e maresia!