120 anos e uns pózes
Não sei se tinha chegado a dizer-vos (este ‘vos’ é um acto que demonstra a minha enorme esperança e não inferior optimismo) mas praticamente arranquei a ler o Pessoa ao mesmo tempo da sopa de legumes. Quando ainda estava de biberon houve uma tentativa de bordadura dumas frases soltas do Desassossego no meu babete, mas eu extasiava-me, parava-se-me a digestão, e por duas vezes bolcei de forma extemporânea (acho que é a primeira vez que escrevi esta palavra, daí algum nervosismo) pelo que a minha mãe optou por me iniciar apenas aquando da ingestão da sopa, utilizando o velho expediente de ter um verso avulso do ‘Guardador de rebanhos’ no fundo do prato, coisa que me inspirou de forma orgânica e definitiva, e além disso me tornou muito bom de boca, entre outras extremidades, se boca for considerada tecnicamente uma extremidade, claro. Como calcularão, no meu primeiro conjunto de pás, balde e ancinho estava gravada toda a ‘Ode marítima’ porque a minha avó gostava muito daquela frase: ‘eis outra vez o mundo real, tão bondoso para os nervos’, e vai daí comecei a andar, a mijar de pé, e a comer pasteis de bacalhau sem refluxo gástrico, até aqui chegar, hoje, sendo que, o meu desporto favorito é, dizem-me, foder a cabeça ao próximo, o que, a par de ser incompreendido, experimentem e confiram, é um clímax. Mas acabou por ser quando uma vez mijei ao desafio um verso do ‘Tabacaria’ numa parede da Calçada da Estrela do lado esquerdo de quem desce – outros tempos de bexiga musculada e desperta para a poesia – que fixei definitivamente o cânone Pessoano na minha vida: ‘serei sempre o que não nasceu para isso, serei sempre só o que tinha qualidades, (…) fiz de mim o que não soube’. Ainda se nota lá hoje uma manchinha amarela pois qualquer poeta que se preze marca o seu território a ureia e sal. Os meus colegas mijavam todos poetas franceses e ainda hoje têm a próstata mais rendilhada que a Torre Eiffel; é conhecido no meio como o síndrome da uretra baudelairiana, e acabaram todos a dietas à base de sartres frias com molho camushel.
Não sei se tinha chegado a dizer-vos (este ‘vos’ é um acto que demonstra a minha enorme esperança e não inferior optimismo) mas praticamente arranquei a ler o Pessoa ao mesmo tempo da sopa de legumes. Quando ainda estava de biberon houve uma tentativa de bordadura dumas frases soltas do Desassossego no meu babete, mas eu extasiava-me, parava-se-me a digestão, e por duas vezes bolcei de forma extemporânea (acho que é a primeira vez que escrevi esta palavra, daí algum nervosismo) pelo que a minha mãe optou por me iniciar apenas aquando da ingestão da sopa, utilizando o velho expediente de ter um verso avulso do ‘Guardador de rebanhos’ no fundo do prato, coisa que me inspirou de forma orgânica e definitiva, e além disso me tornou muito bom de boca, entre outras extremidades, se boca for considerada tecnicamente uma extremidade, claro. Como calcularão, no meu primeiro conjunto de pás, balde e ancinho estava gravada toda a ‘Ode marítima’ porque a minha avó gostava muito daquela frase: ‘eis outra vez o mundo real, tão bondoso para os nervos’, e vai daí comecei a andar, a mijar de pé, e a comer pasteis de bacalhau sem refluxo gástrico, até aqui chegar, hoje, sendo que, o meu desporto favorito é, dizem-me, foder a cabeça ao próximo, o que, a par de ser incompreendido, experimentem e confiram, é um clímax. Mas acabou por ser quando uma vez mijei ao desafio um verso do ‘Tabacaria’ numa parede da Calçada da Estrela do lado esquerdo de quem desce – outros tempos de bexiga musculada e desperta para a poesia – que fixei definitivamente o cânone Pessoano na minha vida: ‘serei sempre o que não nasceu para isso, serei sempre só o que tinha qualidades, (…) fiz de mim o que não soube’. Ainda se nota lá hoje uma manchinha amarela pois qualquer poeta que se preze marca o seu território a ureia e sal. Os meus colegas mijavam todos poetas franceses e ainda hoje têm a próstata mais rendilhada que a Torre Eiffel; é conhecido no meio como o síndrome da uretra baudelairiana, e acabaram todos a dietas à base de sartres frias com molho camushel.
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