Resmoneias bem mas não me filáucias
A reportagem anterior sobre o caso do tráfego ilegal de inconscientes ficaria indesculpavelmente incompleta sem o relato dum inesperado cruzamento de vidas que se viria a revelar dramático, se não mesmo praticamente shakespiroso. A troca de perspectivas entre a arq. Flávia e o sr Calisto corria de tal forma animada que este chegou a pensar em montar um negócio de lavandarias panorâmicas ali na encosta de Alhandra virada a Sul; mas o que não estava nos cálculos do Sr Calisto é que Gasparzinho (o estofador que debutou no rebentar de águas desta reportagem) para terapêutica contra o golpe que a dra Ludovina lhe tinha desferido, passou a fazer uns biscates para gabinetes de arquitectura que diversificavam no cluster da decoração de interiores. Não será por isso com estranheza que os meus estimados ouvintes – se encostarem o ouvido ao ecran vão notar um barulhinho: sou eu – acolherão a notícia de que Gasparzinho em pouco tempo passou a tratar da moldagem dos enchimentos da arq Flavia. A inevitabilidade da tragédia estava no ar: Flavia não aguentou uma escolha permanente entre o sifão e o almofadão, e, um belo dia, depois de ter ido vistoriar um corrimão com torcidos destinado a decorar uma cavalcavia a instalar no logradouro dum condomínio privado ali junto ao jardim das Cortes, foi assolada por um ímpeto de desgraça, e anakareninou-se para debaixo dum eléctrico na calçada do Combro. Gaspazinho, que tinha ficado com um par de fronhas ente mãos, rapidamente lhes arranjou destino, porque a espuma e a fibra adaptam-se a tudo, no entanto, o sr Calisto estava inconsolável pois, como se calcula, o tambor duma Indesit não centrifuga numa Ariston qualquer. Quando Gaspazinho lhe foi apresentar os pêsames, numa atitude que só o dignifica – e inclusive lhe pode garantir o céu - acrescentou que o que mais lhe encantava na Arq Flavia era o cheiro afrutado do amaciador que ela usava na roupa, ao que o Sr Calisto respondeu, qual Mário Crespo, «é escusado, mas vindo de si é sempre bem vindo». Ficou uma amizade para a vida, daquelas que nem uns pastelinhos de bacalhau com batata a mais conseguem desfazer; chamam-lhe destino.
A reportagem anterior sobre o caso do tráfego ilegal de inconscientes ficaria indesculpavelmente incompleta sem o relato dum inesperado cruzamento de vidas que se viria a revelar dramático, se não mesmo praticamente shakespiroso. A troca de perspectivas entre a arq. Flávia e o sr Calisto corria de tal forma animada que este chegou a pensar em montar um negócio de lavandarias panorâmicas ali na encosta de Alhandra virada a Sul; mas o que não estava nos cálculos do Sr Calisto é que Gasparzinho (o estofador que debutou no rebentar de águas desta reportagem) para terapêutica contra o golpe que a dra Ludovina lhe tinha desferido, passou a fazer uns biscates para gabinetes de arquitectura que diversificavam no cluster da decoração de interiores. Não será por isso com estranheza que os meus estimados ouvintes – se encostarem o ouvido ao ecran vão notar um barulhinho: sou eu – acolherão a notícia de que Gasparzinho em pouco tempo passou a tratar da moldagem dos enchimentos da arq Flavia. A inevitabilidade da tragédia estava no ar: Flavia não aguentou uma escolha permanente entre o sifão e o almofadão, e, um belo dia, depois de ter ido vistoriar um corrimão com torcidos destinado a decorar uma cavalcavia a instalar no logradouro dum condomínio privado ali junto ao jardim das Cortes, foi assolada por um ímpeto de desgraça, e anakareninou-se para debaixo dum eléctrico na calçada do Combro. Gaspazinho, que tinha ficado com um par de fronhas ente mãos, rapidamente lhes arranjou destino, porque a espuma e a fibra adaptam-se a tudo, no entanto, o sr Calisto estava inconsolável pois, como se calcula, o tambor duma Indesit não centrifuga numa Ariston qualquer. Quando Gaspazinho lhe foi apresentar os pêsames, numa atitude que só o dignifica – e inclusive lhe pode garantir o céu - acrescentou que o que mais lhe encantava na Arq Flavia era o cheiro afrutado do amaciador que ela usava na roupa, ao que o Sr Calisto respondeu, qual Mário Crespo, «é escusado, mas vindo de si é sempre bem vindo». Ficou uma amizade para a vida, daquelas que nem uns pastelinhos de bacalhau com batata a mais conseguem desfazer; chamam-lhe destino.
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