Vulgatas & Pentateucas
Tirando s. joão baptista o novo testamento não apresenta personagens com biografias que possam ombrear com os grandes figurões do antigo testamento. Aqui quase todos poderiam ser capa de revista, mas ali praticamente tudo se passa entre enjeitados e mal afamados, gente que sem Jesus não se destacaria sequer num livro do êxodo em banda desenhada. O cristianismo é por isso desde o início pensado para desbiografados e não cumpre os requisitos mínimos para interessar personalidades cravejadas pela singularidade e pelo deslumbramento, e muito menos pela brilho da razão iluminada, tirando o seu parabolismo literário de belíssima serventia para salões de chá ou de wisqui. Sendo igualmente mais sóbrio em sentimentologia e grandes caminhadas, o novo testamento pouco inspirou sequer as ciências mais dadas ao coração, seja na sua vertente mais vascular, seja na mais colorida, mas, por outro lado, especializou-se a descrever as irracionalidades dum carpinteiro-protoanarquista-armado-em-Deus-que nem daria para chefe do banco alimentar, pois, despudoradamente, até disse que aos «pobres sempre os tereis convosco» quando Maria lhe despejava pelos pés uma fortuna em nardo puro, arrepiando o traidor Judas, que ficaria a representar, doravante, todos os fiéis representantes das religiões do bom senso.
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