Primeiro Ministro de Favor: procura-se
Sócrates começando a constatar que estava a gerar fortes incompatibilidades com o país que superiormente dirigia, mas, ainda assim, sabendo-se portador dum desígnio que levaria o seu povo mais alto que o Penedo da Saudade, decidiu que teria de passar um pouco mais para a sombra e encontrar alguém que desse a cara e o currículo por ele, mantendo o povo e os jornalistas de turno mais amansados. A primeira e mais natural escolha seria o seu amigo Vara, só que este agora estava ocupado com a esfregona a lavar offshores, chegou a pensar numa catequista que teve em criança e que lhe tinha ensinado que não se devia invocar o nome dos poderosos em vão, mas acabou por escolher um duovirato que tão bons resultados já lhe tinha propiciado: 'Pinho & Lino'. Apesar de aparentarem uma marca de pronto a vestir, desde que esta dupla se tinha calado e baixado o nível técnico de gaffes que, ele, Sócrates, nunca mais tinha tido descanso. A ausência das calinadas de Pinho & Lino mostrara-se fatal para Sócrates, que agora moribundava entre as urgências de Anadia, as ambulâncias de Alijó e as vivendas de Rapoulas. O país precisava inquestionavelmente dele, mas aparentemente exigia alguém que tivesse feito a primeira comunhão, a profissão de fé, limasse as unhas, e soubesse distrair o circo nos tempos mortos entre os leões e os trapezistas. Sócrates, que já tinha entregue a sua assinatura ao sacrifício da alta engenharia, deveria agora também ter direito aos seus primeiros ministros de favor, para assim poder continuar a fazer o seu jogging sem que ninguém o incomodasse a pedir autógrafos.
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