The man in is own bubble #3

Hoje por razões que as leis da previsibilidade humana explicam vou tratar da bolha que funciona em contra-ciclo com a bolha especulativa; trata-se da bolha romântica, ou 'love bubble', como é denominado esse fenómeno, no corpo científico, que eu em boa hora autonomizei da economia dos fluidos: a bubblística.

Ora este fenómeno assemelha-se ao love boat mas com o mecanismo pneumático activado, ou seja, cumpre os desideratos do embeiçamento mas amortece melhor os choques do engate de proa.

Quando se está perante um fenómeno de bolha romântica, o mundo transforma-se num grande pericárdio insuflado, indiferente às regras da oferta e da procura, como se vivêssemos numa espécie paradoxo de giffen permanente, ou seja, damos cada vez mais valor sempre à mesma coisa, chegando, nos casos mais polidos e extremos, à situação em que a membrana da bolha faz de espelhinho para dentro.

O fenómeno bruni-sarko é o típico caso duma love bubble em formação, mas, neste caso particular, por flagrante ausência de activos para especular por parte dos franceses desde que deixaram de se vender as anedotas sobre belgas e se descobriu que só um dedo mindinho do mitterrand tinha comido mais gajas que todas as pilas da legião francesa. É, por isso, uma amostra cientificamente não relevante na bubblistica, séria, que eu defendo.

Quando a sociedade está envolvida numa bolha romântica, os mecanismos de regulação, sejam eles o sexo pago em elevadores panorâmicos ou a utilização dos cartões de pontos da galp nos movimentos de festinhas em preliminares, assumem uma importância crítica, pois a romantização de cariz amorosa num ambiente bubblico leva tendencialmente a desvalorizar um bom coito em detrimento dos apalpões in vitro. Não confundir com o sub-fenómeno platónico, porque esse reflecte apenas a utilização de caverna mal iluminada para a leitura de suplementos literários, geralmente por deficiente irrigação sanguínea de zonas periféricas, e pode apenas significar uma corruptela do verdadeiro love bubble.

No auge do ciclo de bolha romântica toda a intervenção do exterior é repelida por mecanismos ultra-proteccionistas; os mais frequentes são o ‘só-tenho-olhos-para-tíísmo’ e o ‘morro-se-me-deixasísmo’, mas já foram encontrados casos do ‘se-alguém-te-catrapisca-eu-fodo-oísmo’; é uma fase que duração variável e muitas vezes termina violentamente com elementos pontiagudos e marfínicos a rebentarem irreversivelmente a bolha. E há quem tenha acabado a Soros. [Deus permita que apanhem o trocadilho wallstreetico]

O processo clássico de esvaziamento da love bubble dá-se quando o homem começa mais a parecer-se com uma mera tool bar dum programa estatístico, e aparece a primeira lista de compras de supermercado a competir com uma sesta mais colorida. É o chamado ‘choque da mercearia’, em que o amor é confrontado com um grande buraco no estômago, ou mesmo com uma colónia de baratas a disputar a bancada de cozinha, outrora espaldar kamasutrico. A javardice está para a bolha romântica como ernâni Lopes está para a bolha especulativa, servem para avisar o mundo que haverá sempre um momento em que damos o cu e dez tostões por uma boa mulher-a-dias.

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