Fdp’s

Hoje para descansar um pouco a pele de tanta bolha vou voltar a um tema que já aqui tinha abordado em tempos [Outubro de 2006] num tríptico de abstracto efeito: os ‘Factores Decisivos de Progresso’ - fdp’s. Na ocasião tinham sido bafejados pelo meu poder de síntese e diamantada análise a ‘iluminação & obstinação dos predestinados’, o ‘abuso de confiança’ e o ‘abuso da posição dominante’.

Ora nesta Socratistia onde estamos gerundicamente vivendo, mais paramento menos paramento, [e onde o Timshel até descobriu, via Vitorino, também António, que a ‘sociedade portuguesa está a ficar mais igualitária’ – conceito, no mínimo, de fama duvidosa, note-se] tem vindo a instalar-se a - para mim já um clássico da ciência política e da gastroenterologia pediátrica - técnica do ‘fazer-o-que-tem-de-ser-feito’. Poderia dizer que se trata dum neo pragmatismo beirão, uma espécie de Williams-Jamesmismo enxertado a bolota, caracterizado por ‘quem sabe qual vai dar o melhor presunto não são os porcos mas sim o tipo que acende o lume do fumeiro’, mas é muito mais do que isso: é essencialmente um ‘vocês-ainda-me-hão-de-agradecer’.

E é aqui que está o cerne do fdp hoje aqui posto à consignação: ‘o espírito de missão’. Esta capacidade que certos homens têm de se entregar a uma causa sem olhar a consequências, esquecendo eminentes carreiras de tradutores técnicos ou projectistas – a título de exemplo – e que, ao olharem para a sociedade vêem imediatamente nela um grande Biafra que anseia tornar-se num grande Bangladesh, é uma das forças que historicamente drivaram (é um anglicismo técnico) as sociedades na senda do progresso.

Não fora pois, por exemplo, o Darwin ter apanhado frieiras nos pés e ainda hoje pensávamos que éramos todos filhos dum entrecosto, ou não fora o Hubble ter estragado a vista a olhar para as nebulosas e ainda hoje pensávamos que os planetas tinham saído dum barbeque de orelha de espírito santo organizado pelos anjos da guarda. Assim, da mesma forma, abençoados os dias em que, no sopé da inóspita serra de todos os requeijões, um engenheiro técnico soube dar novas marquises ao mundo, à luz duma candeia de envergonhado pavio, fazendo com que todos, sem olhar a berço nem condição, e mesmo sem poder largar um pio, pudessem um dia estender a roupinha sob a luz dum solçialismo sem cartilhas nem cedilhas.

E é nesse artigo que em boa hora o igualitarrista Timshel (com dois erres para se poder confundir com guitarrista) me fez ler, onde eu encontro uma das chaves para controlar esse factor decisivo de progresso que é o ‘espírito de missão’- com a solidariedade igualitária de bónus; diz então o António Habituemsse Vitorino : «as novas fronteiras da solidariedade social passam cada vez mais por serviços de proximidade»; poderá pois a partir de agora o INE passar a medir – sem batota - também o espírito de missão e proximidade solidária, introduzindo um chip na viola de cada evangelista do igualitarrismo e, sempre que soar um acorde junto a uma sopa dos pobres, ou duma bicha de reformados para comprar o passe, ou duma urgência a fechar, pisca uma luzinha na casa de fados do Tim.

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