Agora é só o tribunal da contas não me aceitar este post porque não está bem fundamentado
A entrada de Aznavour – cantor que associo sempre a bolachas Maria molhadas em chá de tília, mas não tenho nada de científico que me subvencione esta associação - aqui no estabelecimento leva-me a ter de introduzir algum empopamento temático para compensar. Ora, tendo tomado conhecimento da vinda cá a Portugal dos The National, precisamente 2 dias antes do dia de nossa Senhora de Fátima, afigura-se-me apropriado descrever sinteticamente a épica madrugada em que os vi este verão no Sudoeste; note-se que há muito que tudo o que se passe depois da meia noite já entra na categoria épica da minha pacata existência, seja gamar bolo de laranja no frigorífico, seja ver o Prós e contras ( ouvir dondocas a contar idas ao ski é que já não consigo ouvir desde os tempos em que o Narciso Miranda foi secretário de estado, um homem que nesta altura podia perfeitamente estar à frente dum petroleira, se não mesmo duma panificação em chelas). Perdi-me.
Ah, os National. Tenho inclusivamente de me confessar publicamente: levei a minha filha mais velha; tinha não só o intuito prático de reduzir a idade média da representação oficial, como tentar mostrar que ainda conseguia elaborar alguma pedagogia musical – pelo menos essa - com sucesso. Falhei em toda a linha. E, ao contrário do que receitou um dos irlandeses bêbedos da moda: eu cá falho cada vez piorzinho, benza-me Deus.
(a partir daqui a Zazie já não deve ler, por isso posso avançar com mais descontracção; sempre a aviar)
Numa merda duma tenda, forrada com uma puta duma nuvem de haxe compacta de meio metro de espessura, que faria roer de inveja a camada de ozono ainda no paleolítico, e com um som que parecia vindo do trombone da banda da carris ligado à peidola duma elefanta com cio, comecei por ouvir os amigos do Timshel, os Guillemots (género pet shop boys mas com mais propensão a piolhos); o gajo guedelhudo que cantava – tem nome mas eu não sei qual é, nem tenho verba para ir ver - estava sentado numa daquelas cadeiras de escritório rotativas de madeira que põem o cu mais achatado que o da Sofia Aparício, e note-se, não reconheci musica rigorosamente nenhuma, cheguei até a pensar que tinha apanhado dois avc’s na curvas do cabo Sardão. O olhar cândido da minha filha, mostrando uma piedosa e filial condescendência, deu-me ânimo para continuar, e à base de muita coca-cola, e promessas - tantas promessas que já estarei na cova e ainda estarei a cumpri-las - predispus-me estoicamente a ouvir, e fazer ouvir, com atenção os Of Montreal, que até tinham um disco novito. Pessoal, eu estava com a minha filha, filhinha querida do meu coração, porra, a ouvir aquele cabrão daquele paneleirão dos Of Montreal, e ao mesmo tempo tentando mostrar-lhe a riqueza dos novos caminhos da pop, argumentando inclusive que o pessoal da minha geração que ela conhecia - tirando eu - tinha parado no tempo a ouvir música, e por isso não conseguiam perceber, nem apreciar, que a musica nova vale realmente a pena ouvir, foda-se e ali à minha frente tinha um gajo com umas meias de renda, e uns calções da cor da gravata que eu hoje trazia, aos pulos, a foder as músicas todas com aquela estética pseudoneopsicadélica que mais parecia um chicharro a dar pasto a varejeiras, e com o som a sair do intestino grosso duns paquidermes a que chamavam pomposamente de colunas de som. Se aquilo eram amplificadores de som fui eu que desvirginei a Sónia Braga.
Bem, mas eu já estava em puro piloto automático, respirando um ar charroso que, tal o anestesiamento, até me parecia filtrado por madressilvas, inchado de tanta coca-cola e cerveja que me chegaram a oferecer dois fígados praticamente novinhos para transplante a troco duma camisola lavada, quando se apresentam os mangas dos ‘The National’ à barraca. A primeira impressão é a que retenho melhor: o baterista tinha pinta e fazia o aquecimento que nem uma mulher a dias moldava a sacudir tapetes de arraiolos. Adianto-vos de novo a título de informativo: o baterista impunha mesmo às 3 da manhã alguma confiança, género fredy mercury quando coçava os tomates, e trazia logo como vantagem decisiva o facto de não exibir plumas rosas agarradas à peúga, nem cuecas de pavão. E o Berninguer; ora o Berninguer era o que condizia melhor com a plateia: completamente bêbedo, e com vontade de continuar assim por muitos e bons anos, claro; mas com aquela bebedeira que inspira uma lucidez penetrante, acho que foi essa expressão, lucidez penetrante, que consegui utilizar na altura. A minha filha; dormia na relva, claro, também ela duma lucidez penetrante mas noutro estilo. Eu, ora eu; eu que tinha passado uma semana a apregoar o valor da estética subjacente, também cheguei a usar esta expressão, àquele emsemble de decadência pop a pessoal que - todo penetrantemente lúcido, também ele - se recusou a acompanhar-me, tendo eu feito inclusive gráficos na maré vazia demonstrado o quão interessante era aquele som misturado com aquele letrame, com uma batida tão dorida quando frenética - expressão esta já elaborada especificamente para este post - agora via-me ali, filho de Deus inclusive nos melhores catecismos, numa ilha de erva cheirosa, a fingir que estava a gostar – e muito - do que se estava a passar, absolutamente impossibilitado de sair dali nem para dar uma mijinha que fosse, sem energias sequer para murmurar um semi fodasse que fosse, no meio dum som naquela fase já diarreicamente parido por entre aqueles orgasmos de hipopótamas parelelepipedradas, tecnicamente designadas por aparelhagens de som.
11 de Maio, dizem. A minha filha respondeu-me: ah, já vi. Sirvo tanto para pai como o Pacheco Pereira para organizar álbuns de fotografias, e hoje ainda cheguei a pensar que o Farnerud ia marcar um golo, por isso, pelo menos, o haxe devia ser de duradoiro efeito.
A entrada de Aznavour – cantor que associo sempre a bolachas Maria molhadas em chá de tília, mas não tenho nada de científico que me subvencione esta associação - aqui no estabelecimento leva-me a ter de introduzir algum empopamento temático para compensar. Ora, tendo tomado conhecimento da vinda cá a Portugal dos The National, precisamente 2 dias antes do dia de nossa Senhora de Fátima, afigura-se-me apropriado descrever sinteticamente a épica madrugada em que os vi este verão no Sudoeste; note-se que há muito que tudo o que se passe depois da meia noite já entra na categoria épica da minha pacata existência, seja gamar bolo de laranja no frigorífico, seja ver o Prós e contras ( ouvir dondocas a contar idas ao ski é que já não consigo ouvir desde os tempos em que o Narciso Miranda foi secretário de estado, um homem que nesta altura podia perfeitamente estar à frente dum petroleira, se não mesmo duma panificação em chelas). Perdi-me.
Ah, os National. Tenho inclusivamente de me confessar publicamente: levei a minha filha mais velha; tinha não só o intuito prático de reduzir a idade média da representação oficial, como tentar mostrar que ainda conseguia elaborar alguma pedagogia musical – pelo menos essa - com sucesso. Falhei em toda a linha. E, ao contrário do que receitou um dos irlandeses bêbedos da moda: eu cá falho cada vez piorzinho, benza-me Deus.
(a partir daqui a Zazie já não deve ler, por isso posso avançar com mais descontracção; sempre a aviar)
Numa merda duma tenda, forrada com uma puta duma nuvem de haxe compacta de meio metro de espessura, que faria roer de inveja a camada de ozono ainda no paleolítico, e com um som que parecia vindo do trombone da banda da carris ligado à peidola duma elefanta com cio, comecei por ouvir os amigos do Timshel, os Guillemots (género pet shop boys mas com mais propensão a piolhos); o gajo guedelhudo que cantava – tem nome mas eu não sei qual é, nem tenho verba para ir ver - estava sentado numa daquelas cadeiras de escritório rotativas de madeira que põem o cu mais achatado que o da Sofia Aparício, e note-se, não reconheci musica rigorosamente nenhuma, cheguei até a pensar que tinha apanhado dois avc’s na curvas do cabo Sardão. O olhar cândido da minha filha, mostrando uma piedosa e filial condescendência, deu-me ânimo para continuar, e à base de muita coca-cola, e promessas - tantas promessas que já estarei na cova e ainda estarei a cumpri-las - predispus-me estoicamente a ouvir, e fazer ouvir, com atenção os Of Montreal, que até tinham um disco novito. Pessoal, eu estava com a minha filha, filhinha querida do meu coração, porra, a ouvir aquele cabrão daquele paneleirão dos Of Montreal, e ao mesmo tempo tentando mostrar-lhe a riqueza dos novos caminhos da pop, argumentando inclusive que o pessoal da minha geração que ela conhecia - tirando eu - tinha parado no tempo a ouvir música, e por isso não conseguiam perceber, nem apreciar, que a musica nova vale realmente a pena ouvir, foda-se e ali à minha frente tinha um gajo com umas meias de renda, e uns calções da cor da gravata que eu hoje trazia, aos pulos, a foder as músicas todas com aquela estética pseudoneopsicadélica que mais parecia um chicharro a dar pasto a varejeiras, e com o som a sair do intestino grosso duns paquidermes a que chamavam pomposamente de colunas de som. Se aquilo eram amplificadores de som fui eu que desvirginei a Sónia Braga.
Bem, mas eu já estava em puro piloto automático, respirando um ar charroso que, tal o anestesiamento, até me parecia filtrado por madressilvas, inchado de tanta coca-cola e cerveja que me chegaram a oferecer dois fígados praticamente novinhos para transplante a troco duma camisola lavada, quando se apresentam os mangas dos ‘The National’ à barraca. A primeira impressão é a que retenho melhor: o baterista tinha pinta e fazia o aquecimento que nem uma mulher a dias moldava a sacudir tapetes de arraiolos. Adianto-vos de novo a título de informativo: o baterista impunha mesmo às 3 da manhã alguma confiança, género fredy mercury quando coçava os tomates, e trazia logo como vantagem decisiva o facto de não exibir plumas rosas agarradas à peúga, nem cuecas de pavão. E o Berninguer; ora o Berninguer era o que condizia melhor com a plateia: completamente bêbedo, e com vontade de continuar assim por muitos e bons anos, claro; mas com aquela bebedeira que inspira uma lucidez penetrante, acho que foi essa expressão, lucidez penetrante, que consegui utilizar na altura. A minha filha; dormia na relva, claro, também ela duma lucidez penetrante mas noutro estilo. Eu, ora eu; eu que tinha passado uma semana a apregoar o valor da estética subjacente, também cheguei a usar esta expressão, àquele emsemble de decadência pop a pessoal que - todo penetrantemente lúcido, também ele - se recusou a acompanhar-me, tendo eu feito inclusive gráficos na maré vazia demonstrado o quão interessante era aquele som misturado com aquele letrame, com uma batida tão dorida quando frenética - expressão esta já elaborada especificamente para este post - agora via-me ali, filho de Deus inclusive nos melhores catecismos, numa ilha de erva cheirosa, a fingir que estava a gostar – e muito - do que se estava a passar, absolutamente impossibilitado de sair dali nem para dar uma mijinha que fosse, sem energias sequer para murmurar um semi fodasse que fosse, no meio dum som naquela fase já diarreicamente parido por entre aqueles orgasmos de hipopótamas parelelepipedradas, tecnicamente designadas por aparelhagens de som.
11 de Maio, dizem. A minha filha respondeu-me: ah, já vi. Sirvo tanto para pai como o Pacheco Pereira para organizar álbuns de fotografias, e hoje ainda cheguei a pensar que o Farnerud ia marcar um golo, por isso, pelo menos, o haxe devia ser de duradoiro efeito.
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