Um dia sugeriram-lhe que para rejuvenescer a sua fé teria de passar de vez em quando uma temporada sem Deus. Para lhe vir a sentir a falta, supunha-se, testando assim na fé as técnicas mais básicas do amor humano, para conferir se a falsa leveza afinal poderia pesar como chumbo. Mas quais seriam as condições para aceitar aquela prova, sabendo ele que nem todas as excursões fornecem percursos de regresso. Uma coisa era certa, a fé em Deus prega mais partidas do que a indiferença, é muito mais exigente do que qualquer moral ou ética pública ou privada, e pede mais freios e contrapesos à alma e ao corpo do que um liberal encartado a um governo de iluminados.
Quando numa primeira fase clássica de aproximação táctica se decidiu a pôr Deus no scrabble, entregando-o ao destino traçado por vogais e consoantes tiradas do saco, viu que o seu Deus se safava bem no desafio dos jogos de paleio e, ao cardápio das omniências, ainda teve de acrescentar a prerrogativa de Deus aguentar bem todos os significados, desde os mais abstractos aos mais comezinhos, pois tanto era verdade e amor, alfa e omega, acto, energia e alegoria, como era o gajo barbudo que lhe piscava o olho ao seu fraquinho por filmes de diabos à solta ou de mulheres perdidas nos pecados da carne.
Mas haveria que fazer o teste derradeiro, o teste da perda de todas as referências, o fazer de curva ora da procura ora da oferta sem eixos doirados onde se agarrar. Com pais e filhos apenas presos ao ADN e ao NIB, sem amores nem causas, tudo seria um preço. E Deus rapidamente assumiria em pleno a sua insólita característica de ser desnecessário por natureza.
A selva apareceu-lhe assim sem a mínima indicação de zona de presa ou zona de predador; bom selvagem ou lobo faminto, teria agora o prazer de descobrir por sua conta. De lei natural, nem preâmbulo; de Deus, nem bafo.
Voltou. Voltou velho. A ausência de Deus tinha-lhe afinado o calculismo, exigira-lhe uma maior percentagem de oxigénio na mistura respiratória, desgastara-se a pensar onde teria bastado um instinto medianamente polido, e tinha-se lançado de cabeça onde caberia algum esclarecido livre arbítrio.
Olhou então Deus de frente, tipo cara a cara mas sem cara. Se Deus tivesse ombros naquele momento tê-los-ia encolhido.
Se Deus tivesse um fetiche seriam os filhos pródigos.
Quando numa primeira fase clássica de aproximação táctica se decidiu a pôr Deus no scrabble, entregando-o ao destino traçado por vogais e consoantes tiradas do saco, viu que o seu Deus se safava bem no desafio dos jogos de paleio e, ao cardápio das omniências, ainda teve de acrescentar a prerrogativa de Deus aguentar bem todos os significados, desde os mais abstractos aos mais comezinhos, pois tanto era verdade e amor, alfa e omega, acto, energia e alegoria, como era o gajo barbudo que lhe piscava o olho ao seu fraquinho por filmes de diabos à solta ou de mulheres perdidas nos pecados da carne.
Mas haveria que fazer o teste derradeiro, o teste da perda de todas as referências, o fazer de curva ora da procura ora da oferta sem eixos doirados onde se agarrar. Com pais e filhos apenas presos ao ADN e ao NIB, sem amores nem causas, tudo seria um preço. E Deus rapidamente assumiria em pleno a sua insólita característica de ser desnecessário por natureza.
A selva apareceu-lhe assim sem a mínima indicação de zona de presa ou zona de predador; bom selvagem ou lobo faminto, teria agora o prazer de descobrir por sua conta. De lei natural, nem preâmbulo; de Deus, nem bafo.
Voltou. Voltou velho. A ausência de Deus tinha-lhe afinado o calculismo, exigira-lhe uma maior percentagem de oxigénio na mistura respiratória, desgastara-se a pensar onde teria bastado um instinto medianamente polido, e tinha-se lançado de cabeça onde caberia algum esclarecido livre arbítrio.
Olhou então Deus de frente, tipo cara a cara mas sem cara. Se Deus tivesse ombros naquele momento tê-los-ia encolhido.
Se Deus tivesse um fetiche seriam os filhos pródigos.
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