A minha pátria é a língua, mas também gosto de rosbife
Aparentemente o acordo de jardinagem horto gráfica irá marcar este novo ano pelo fim das ‘consoantes não pronunciadas’. Acabará assim uma das marcas simultaneamente mais aristocrática e mais mística da portugalidade, esse ter coisas que não serviam rigorosamente para nada - as nossas consoantes mudas, que tanta falta nos irão fazer.
Eram verdadeiras consoantes de companhia; sóbrias, educadas, discretas, nunca mais se fazem consoantes assim e estaremos destinados a viver com ‘tês empinados. Essas consoantes que souberam dedicar a sua vida para outras sobressaírem, deixam-nos agora sem glória e, pior, criam um vazio que não está ao alcance de nenhum acento, por mais circunflexo que seja, preencher. A nossa língua precisa dessas consoantes que souberam trabalhar na sombra, que deram sentido aos actos e aos factos, e que facilitaram a vida a muita vogal que, assim, conseguiu sobreviver num mundo dominado por uma maioria ruidosa de consoantes que não olham a meios.
A consoante de companhia mereceria pelo menos um lugar no panteão, ou aparecer num quadro da Paula Rego a fazer de camareira gaga, ou, pelo menos, fazerem com ela uns brincos de filigrana para pôr nas orelhas da Marisa, para ver se ela fica com um ar decente de fadista e deixa de parecer um kiwi albino.
Compreendo que, se já não vai ser possível medir a tensão arterial às duas da manhã em Anadia, ou parir em Elvas, também já não haja verba para as consoantes não pronunciadas, contudo, acho que deviam fazer uma moratória, não sei, um período de adaptação, pois não vai ser nada fácil para essas consoantes arranjarem assim do pé para a mão uma ocupação digna. E não acho que seja próprio irem fazer de hífen e muito menos de apóstrofo para as virilhas dum vocabulário qualquer; isso seria lexicarem-nas completamente. Será para além disso um péssimo sinal para as cedilhas que ainda podem ficar a pensar que são as que vão a seguir; e então um país sem cedilhas seria meio caminho para voltarem os ss.
Sócrates, que também tem tido bastante sucesso com ministros não pronunciados, aliás quando proibiu que alguns se pronunciassem foi quando eles começaram a render mais – o Pinho até começou a ajudar na lida da casa e tudo – devia olhar para este problema, e sendo um homem, e, antes de mais, um engenheiro, das beiras, sabe bem que o interior das palavras vai ficar mais pobre sem estas consoantes, que disseram presente quando a língua precisou delas, coisa que muita vogal, nem gaguejada, algum dia fará.
Aparentemente o acordo de jardinagem horto gráfica irá marcar este novo ano pelo fim das ‘consoantes não pronunciadas’. Acabará assim uma das marcas simultaneamente mais aristocrática e mais mística da portugalidade, esse ter coisas que não serviam rigorosamente para nada - as nossas consoantes mudas, que tanta falta nos irão fazer.
Eram verdadeiras consoantes de companhia; sóbrias, educadas, discretas, nunca mais se fazem consoantes assim e estaremos destinados a viver com ‘tês empinados. Essas consoantes que souberam dedicar a sua vida para outras sobressaírem, deixam-nos agora sem glória e, pior, criam um vazio que não está ao alcance de nenhum acento, por mais circunflexo que seja, preencher. A nossa língua precisa dessas consoantes que souberam trabalhar na sombra, que deram sentido aos actos e aos factos, e que facilitaram a vida a muita vogal que, assim, conseguiu sobreviver num mundo dominado por uma maioria ruidosa de consoantes que não olham a meios.
A consoante de companhia mereceria pelo menos um lugar no panteão, ou aparecer num quadro da Paula Rego a fazer de camareira gaga, ou, pelo menos, fazerem com ela uns brincos de filigrana para pôr nas orelhas da Marisa, para ver se ela fica com um ar decente de fadista e deixa de parecer um kiwi albino.
Compreendo que, se já não vai ser possível medir a tensão arterial às duas da manhã em Anadia, ou parir em Elvas, também já não haja verba para as consoantes não pronunciadas, contudo, acho que deviam fazer uma moratória, não sei, um período de adaptação, pois não vai ser nada fácil para essas consoantes arranjarem assim do pé para a mão uma ocupação digna. E não acho que seja próprio irem fazer de hífen e muito menos de apóstrofo para as virilhas dum vocabulário qualquer; isso seria lexicarem-nas completamente. Será para além disso um péssimo sinal para as cedilhas que ainda podem ficar a pensar que são as que vão a seguir; e então um país sem cedilhas seria meio caminho para voltarem os ss.
Sócrates, que também tem tido bastante sucesso com ministros não pronunciados, aliás quando proibiu que alguns se pronunciassem foi quando eles começaram a render mais – o Pinho até começou a ajudar na lida da casa e tudo – devia olhar para este problema, e sendo um homem, e, antes de mais, um engenheiro, das beiras, sabe bem que o interior das palavras vai ficar mais pobre sem estas consoantes, que disseram presente quando a língua precisou delas, coisa que muita vogal, nem gaguejada, algum dia fará.
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