Já passava das seis e ainda não tinha desafiado nenhuma lei do bom senso

O primeiro grande teste que Deus colocou ao homem foi de natureza vegetariana, tentando-o com uma maçã que, mesmo não sendo reineta, simbolizava o orgulho do homem em querer ser como Deus; já o segundo grande teste conhecido é bastante mais proteínico, quando Abraão é posto à prova ao lhe ser exigido o sacrifício do próprio filho, que tanto batido de esperma lhe tinha custado, inaugurando o combate civilizacional entre consciência e dever. O terceiro teste foi relativamente mais esotérico-epistemológico, quando um anjo aparece a N. Senhora e a informa que está de esperanças dum rapazola sem pai biológico, inaugurando oficialmente o confronto entre evidência e razão, e o quarto foi de natureza literária quando Lutero é posto à prova para ver se conseguia conviver com o lado metafórico da religião e da vida, antecipando Borges, Beckett e o padre Melícias. Desde aí que a humanidade tem sido poupada a grandes decisões e por isso tem afrouxado com pecados de média estirpe, como sejam umas gajas nuas e umas baforadas com Ziclon. Pondo de lado a hipótese teórica de que o Criador tenha desistido de nós, sou levado a crer que apenas entrou num ciclo mais contemplativo, também tem direito a gozar o prato, e que mais tarde ou mais cedo nos será colocada alguma situação mais melindrosa. Se for relacionada com o papel dos fluidos não-newtonianos na ejaculação precoce, ou com a ementa para o banquete do juízo final, adianto já que as minhas preferências vão para os pastéis de bacalhau com arroz de tomate malandrinho.

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