Index Librorum Prohibitorum
Deve andar muita gente com a língua em papos de aranha, enrolada que nem uma minhoca a babar latim, para dizer a frase que intitula este post, que, registe-se, tem tudo para poder vir a ser um post maravilhoso.
Eu queria deixar aqui assinalado que seria hoje muito melhor pessoa, melhor pai, marido, e inclusivamente daria muito melhor serventia em geral, se me tivessem proibido de ler certos e particularizados livros que só uma curiosidade desgovernada e complexada, entre o mórbido e o leviano, me fez enterrar as pupilas até ao engomamento do nervo óptico.
A primeira proibição, julgo até que já aqui a contei há uns anos (topem só: ‘há uns anos’, dá logo uma certa pinta) foi quando o meu santo pai me proibiu de terminar o 2º volume daquela obra oficialmente apaneleirada que um gajo que veio a ser conhecido por Proust, e que por acaso também era o nome dele, escreveu. Estou-lhe quase tão eternamente grato como por aquela pista scalextrix que me ofereceu, mas que, como era tão jeitoso de mãozinhas como eu, nunca chegou a funcionar 15 minutos seguidos e assim garantiu as bodas de oiro daquele casal que ocasionou parir-me, entre outras actividades mais bem sucedidas.
Infelizmente para mim já não foi a tempo de me impedir a 2ª leitura dos karamanzoves – a primeira tinha logrado camuflá-la entre as páginas duma revistita porno espanhola que tinha uma gaja de unhas pintadas de azul mas que deixava um bocadinho da lombada do dostroyna de fora - o que me resultou numa crise de fígado que, por sua vez, me veio privar de poder exceder as 25 fatias de pata negra em simultâneo para o resto da vida, e jamais juntá-las com manchego, para mal dos meu pecados, mas para bem da carteira.
Mas quero crer que a proibição que mais me beneficiou foi ter-me sido vedada a leitura de poesia romântica, e o meu contacto com baudelairadas faz-se já num ambiente técnico de engate, ou seja, enquadrado numa gestão por objectivos que sempre norteou a minha vida, inclusivamente na leitura de Kundera, que, honra lhe seja feita, retém melhor orgasmos que santa Teresinha.
No entanto, é de elementar justiça, julgo que anda não tinha utilizado esta expressão, destacar o factor determinante que tiveram para mim todas as proibições que a minha irmã me impôs em torno da literatura peri-existencialista. Até aos 20 anos sempre julguei que Niesctszh, Sartres e Kirkes eram amestradores dum circo húngaro em digressão pela cote d’azur e que faziam mal aos animais, chegavam mesmo a pôr papa-formigas a miar e a copular pelo nariz com texugas da Moldávia. Descobri no entanto que, aproveitando-se da minha ingenuidade - que só perdi posteriormente quando desflorei platonicamente três virgens na Serra da Boa Viagem depois de ler um Henry Miller com uma sandes de mortadela - a minha irmã usava este estratagema para ouvir músicas depravadas e que incitavam ao desenvolvimento do lado pagão da nossa consciência, e foi aí que me virei para o estudo dos costumes dos povos da Ásia Central.
Entre tadjiques e usbeques forjei uma personalidade viril, vi em Tamerlão um modelo de virtude e sensibilidade, e cheguei a ter um poster de azulejos de Samarcanda ao lado do Bruce Springsteen. Entrei então, inesperadamente, numa fase de auto-flagelação literária, tendo chicoteado o neurónio com literatura, digamos, de vertente sociológica, faltou-me aí uma voz amiga, tendo inclusivamente passado o meu olhar manteiga por alberonis e outros rebuçados tutti-frutti. Só recuperei à base de uma quarta leitura da ‘ana karenina’ – o único livro realmente recomendado para furúnculos na zona virílhica e fogagens dorsais - e duma série de desenhos em que simbiosionava a parte final das costas da jennifer lopez com uma técnica cubista que repuxava ligeiramente as coxas.
Sou pois um fortíssimo apologista da indexação de livros em listas proibitórias, e vejo inclusivamente nesta medida entre o ecológico e o higiénico a única forma de manter incólumes ou limpar inconscientes de toda aquela tralha que nos tem sido infundida por lampiões e outros amantes da decadência do homem, enquanto ser que ama, come tremoços com casca, farinheira, e uma vez por outra ouve o Pacheco Pereira.
Ponham-se a ler a divina comédia e o antigo testamento, ponham, e depois queixem-se das hemorróidas.
Deve andar muita gente com a língua em papos de aranha, enrolada que nem uma minhoca a babar latim, para dizer a frase que intitula este post, que, registe-se, tem tudo para poder vir a ser um post maravilhoso.
Eu queria deixar aqui assinalado que seria hoje muito melhor pessoa, melhor pai, marido, e inclusivamente daria muito melhor serventia em geral, se me tivessem proibido de ler certos e particularizados livros que só uma curiosidade desgovernada e complexada, entre o mórbido e o leviano, me fez enterrar as pupilas até ao engomamento do nervo óptico.
A primeira proibição, julgo até que já aqui a contei há uns anos (topem só: ‘há uns anos’, dá logo uma certa pinta) foi quando o meu santo pai me proibiu de terminar o 2º volume daquela obra oficialmente apaneleirada que um gajo que veio a ser conhecido por Proust, e que por acaso também era o nome dele, escreveu. Estou-lhe quase tão eternamente grato como por aquela pista scalextrix que me ofereceu, mas que, como era tão jeitoso de mãozinhas como eu, nunca chegou a funcionar 15 minutos seguidos e assim garantiu as bodas de oiro daquele casal que ocasionou parir-me, entre outras actividades mais bem sucedidas.
Infelizmente para mim já não foi a tempo de me impedir a 2ª leitura dos karamanzoves – a primeira tinha logrado camuflá-la entre as páginas duma revistita porno espanhola que tinha uma gaja de unhas pintadas de azul mas que deixava um bocadinho da lombada do dostroyna de fora - o que me resultou numa crise de fígado que, por sua vez, me veio privar de poder exceder as 25 fatias de pata negra em simultâneo para o resto da vida, e jamais juntá-las com manchego, para mal dos meu pecados, mas para bem da carteira.
Mas quero crer que a proibição que mais me beneficiou foi ter-me sido vedada a leitura de poesia romântica, e o meu contacto com baudelairadas faz-se já num ambiente técnico de engate, ou seja, enquadrado numa gestão por objectivos que sempre norteou a minha vida, inclusivamente na leitura de Kundera, que, honra lhe seja feita, retém melhor orgasmos que santa Teresinha.
No entanto, é de elementar justiça, julgo que anda não tinha utilizado esta expressão, destacar o factor determinante que tiveram para mim todas as proibições que a minha irmã me impôs em torno da literatura peri-existencialista. Até aos 20 anos sempre julguei que Niesctszh, Sartres e Kirkes eram amestradores dum circo húngaro em digressão pela cote d’azur e que faziam mal aos animais, chegavam mesmo a pôr papa-formigas a miar e a copular pelo nariz com texugas da Moldávia. Descobri no entanto que, aproveitando-se da minha ingenuidade - que só perdi posteriormente quando desflorei platonicamente três virgens na Serra da Boa Viagem depois de ler um Henry Miller com uma sandes de mortadela - a minha irmã usava este estratagema para ouvir músicas depravadas e que incitavam ao desenvolvimento do lado pagão da nossa consciência, e foi aí que me virei para o estudo dos costumes dos povos da Ásia Central.
Entre tadjiques e usbeques forjei uma personalidade viril, vi em Tamerlão um modelo de virtude e sensibilidade, e cheguei a ter um poster de azulejos de Samarcanda ao lado do Bruce Springsteen. Entrei então, inesperadamente, numa fase de auto-flagelação literária, tendo chicoteado o neurónio com literatura, digamos, de vertente sociológica, faltou-me aí uma voz amiga, tendo inclusivamente passado o meu olhar manteiga por alberonis e outros rebuçados tutti-frutti. Só recuperei à base de uma quarta leitura da ‘ana karenina’ – o único livro realmente recomendado para furúnculos na zona virílhica e fogagens dorsais - e duma série de desenhos em que simbiosionava a parte final das costas da jennifer lopez com uma técnica cubista que repuxava ligeiramente as coxas.
Sou pois um fortíssimo apologista da indexação de livros em listas proibitórias, e vejo inclusivamente nesta medida entre o ecológico e o higiénico a única forma de manter incólumes ou limpar inconscientes de toda aquela tralha que nos tem sido infundida por lampiões e outros amantes da decadência do homem, enquanto ser que ama, come tremoços com casca, farinheira, e uma vez por outra ouve o Pacheco Pereira.
Ponham-se a ler a divina comédia e o antigo testamento, ponham, e depois queixem-se das hemorróidas.
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