plus parvínias

Diva. Susto. Perca de voz. Vida quase sem sentido. Opções; um: compor. Impossível, o som despedaçava-lhe a alma pela sinistra via da saudade; dois: letrista. Sucesso. Quem as cantava encantava, que nem chuva deus a dava; qualquer que fosse a música corações dilacerava, a todos garantia bons momentos, só casamentos de noivas de sto antónio foram mais de 500. Até mambos, até modinhas, até tangos. Era o tal chamado «ninguém ficava indiferente». E escrevia as letras compulsivamente; inventou sentimentos que ninguém ainda tinha experimentado. Chamaram-lhe mistura de Afrodite com Freud. Até deu em canção: ‘Afreudite’. E de bónus ainda curava da artrite. Novo susto. Voz de volta. Apenas tinha passado um mau bocado, era diva agora ao quadrado. Novo e inesperado dilema: cantar as suas letras? Tentou; não conseguiu. Sentia-se sempre a cantar num divã. Sentia-se livro aberto. Tinha de optar: ou voz, ou letras. Confiou na providência. Procurou um novo susto para ver o que perderia dessa vez. Deu um passo a mais. Morte tecnicamente estúpida, a providência já não é o que era. A camioneta não teve tempo de parar. Asfalto, diva no.

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