Portugal – modo de usar
Quando Le Pen foi à segunda volta das presidenciais há 5 anos uma das imagens que correu o mundo foi o tipo a rir-se alarvemente enquanto agarrava num presunto. Lembro-me da fotografia mas não me lembro do seu enquadramento e hoje é ela que me leva a este meu intermitente ABarreto side of the soul. Portugal é um país que não pode ser consumido por inteiro mas deve ser apreciado em fatias fininhas cortadas a preceito. Temos um problema, sim temos: como não nos podemos dar ao luxo de consumi-lo rapidamente para que não seque, temos de aguentar a delicada peça por muitos anos aberta e a tentar que ela não se nos fique na boca a saber a grandes descobridores oceânicos que acabaram medíocres nadadores salvadores de banheira. Voltemos ao presunto.
Primeiro há que prendê-lo à tábua. Portugal tem muita tendência para nos fugir, ora escorrega para o quinto império ou cai na marroquinação, ou seja, convém mantê-lo estável naquela clássica posição perikamasutriana: o cu pode estar virado para a lua, mas os pés devem estar bem assentes chão. Mas bem pago.
Segundo, seguir a nervura. Seremos sempre um país sinuoso. Mas a sinuosidade tem tendência para a circularidade. (já estafei o nietzsche no post anterior senão aqui caia que nem ginja o ‘eterno retorno’) Ou seja, a farripa rende mais que a fatia grande porque esta pode ficar enrolada no céu da boca e não dá para chupar o sal em condições, e, já se sabe: «o teu sal são as lágrimas de Portugal»
Terceira, não fumá-lo demasiado. Portugal deve mais à perspectiva que ao sfumato. Se Leonardo fosse português (por vezes o espermatozoide tem razões que o útero desconhece, diria Pascal se fosse ginecologista) a Gioconda sairia enquadrada num pôr do sol na Arrábida com uma sardinhada de fundo, e aqui só uma boa perspectiva o safava pois o povo acharia que o sfumato era uma merda qualquer que vinha duma churrascaria esconsa na Luisa Todi.
Quarto, a gordura enquanto não ganhar ranço é sinal de prosperidade. Só a esquerda é que pode dar escapatória a Portugal. Isto é uma evidência da geopolitica: quem vem de baixo ( do lado da mão do presunto, nesta nossa analogia) à direita temos os espanhóis e à esquerda temos o mar. Ora escolhendo entre o pina moura e a trafaria, um gajo normal desvia-se para esquerda e apanha a gordura mais saudável porque, na média, o porco português não usou desodorizante. (os porcos espanhóis antes usavam Agua Brava o que lhes dava aquele sabor inconfundível e por isso conseguiram criar o grande cluster da pata negra)
Quinto, e último, nunca se deve comer o presunto sem acompanhamento. Aí está, parece que termino com uma aparente contradição. Portugal seria um país que só se consumiria decentemente se não aprofundássemos grandes comparações. Mas, se repararmos bem, o romantismo filosófico alemão revela-nos e justifica-nos a grandeza da portucalidade no seu esplendor: Tudo o que se encontra fora foi-lhe transmitido por nós próprios, o ‘não eu é totalmente determinado pelo eu’. O bom presunto vem de fora, mas apenas nós o sabemos cortar e dar-lhe o conveniente acompanhamento.
E agora façam de conta que eu não escrevi nada.
Quando Le Pen foi à segunda volta das presidenciais há 5 anos uma das imagens que correu o mundo foi o tipo a rir-se alarvemente enquanto agarrava num presunto. Lembro-me da fotografia mas não me lembro do seu enquadramento e hoje é ela que me leva a este meu intermitente ABarreto side of the soul. Portugal é um país que não pode ser consumido por inteiro mas deve ser apreciado em fatias fininhas cortadas a preceito. Temos um problema, sim temos: como não nos podemos dar ao luxo de consumi-lo rapidamente para que não seque, temos de aguentar a delicada peça por muitos anos aberta e a tentar que ela não se nos fique na boca a saber a grandes descobridores oceânicos que acabaram medíocres nadadores salvadores de banheira. Voltemos ao presunto.
Primeiro há que prendê-lo à tábua. Portugal tem muita tendência para nos fugir, ora escorrega para o quinto império ou cai na marroquinação, ou seja, convém mantê-lo estável naquela clássica posição perikamasutriana: o cu pode estar virado para a lua, mas os pés devem estar bem assentes chão. Mas bem pago.
Segundo, seguir a nervura. Seremos sempre um país sinuoso. Mas a sinuosidade tem tendência para a circularidade. (já estafei o nietzsche no post anterior senão aqui caia que nem ginja o ‘eterno retorno’) Ou seja, a farripa rende mais que a fatia grande porque esta pode ficar enrolada no céu da boca e não dá para chupar o sal em condições, e, já se sabe: «o teu sal são as lágrimas de Portugal»
Terceira, não fumá-lo demasiado. Portugal deve mais à perspectiva que ao sfumato. Se Leonardo fosse português (por vezes o espermatozoide tem razões que o útero desconhece, diria Pascal se fosse ginecologista) a Gioconda sairia enquadrada num pôr do sol na Arrábida com uma sardinhada de fundo, e aqui só uma boa perspectiva o safava pois o povo acharia que o sfumato era uma merda qualquer que vinha duma churrascaria esconsa na Luisa Todi.
Quarto, a gordura enquanto não ganhar ranço é sinal de prosperidade. Só a esquerda é que pode dar escapatória a Portugal. Isto é uma evidência da geopolitica: quem vem de baixo ( do lado da mão do presunto, nesta nossa analogia) à direita temos os espanhóis e à esquerda temos o mar. Ora escolhendo entre o pina moura e a trafaria, um gajo normal desvia-se para esquerda e apanha a gordura mais saudável porque, na média, o porco português não usou desodorizante. (os porcos espanhóis antes usavam Agua Brava o que lhes dava aquele sabor inconfundível e por isso conseguiram criar o grande cluster da pata negra)
Quinto, e último, nunca se deve comer o presunto sem acompanhamento. Aí está, parece que termino com uma aparente contradição. Portugal seria um país que só se consumiria decentemente se não aprofundássemos grandes comparações. Mas, se repararmos bem, o romantismo filosófico alemão revela-nos e justifica-nos a grandeza da portucalidade no seu esplendor: Tudo o que se encontra fora foi-lhe transmitido por nós próprios, o ‘não eu é totalmente determinado pelo eu’. O bom presunto vem de fora, mas apenas nós o sabemos cortar e dar-lhe o conveniente acompanhamento.
E agora façam de conta que eu não escrevi nada.
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