Um dos efeitos colaterais da chamada ‘emancipação da mulher’ é que hoje já não há mulheres verdadeiramente românticas, mulheres que gostem romanticamente, mulheres genuinamente atormentadas por uma paixão arrebatadora. Aquela ideia peregrina instalada de que as mulheres para lhe serem reconhecidas competências, ditas profissionais, se têm de esforçar mais do que os homens em semelhantes circunstancias, mesmo que tenha alguma verdade encavalitada, foi produzindo mulheres mais amargas, mais desconfiadas, mais camufladas, mais ironificadas, mais desbovaryzadas, mais deskareninezadas, mais descarletteo’harizadas; hoje, por exemplo, Baudelaire dedicar-se-ia a fazer anúncios para a super bock, Ingres pintaria costas de cadeiras, ou henry james iria mesmo desesperar para escrever uma linha que fosse sobre uma mulher apaixonada, porque, isso, na realidade já não existe, é coisa do passado; hoje a mulher é um espécime antropológico-social, um objecto de estudo para o António Barreto, um acaso anatómico-neuronal; a mulher como construção dum certo imaginário masculino, e essencial para o equilíbrio deste, desvaneceu-se, e agora já não há kants, nem nietzches, nem wittgensteins para porem água na fervura nesta desmaterialização, nesta diluição, nesta mineralização cristalizada, simbólica, semiótica, fenomenologica do feminino. Hoje, diga-se, até a educação moral está desprotegida e sem referências, pois a expressão ‘diabo com saias’ tem perdido o seu fulgor e tem sido substituída por ‘cubos de gelo em tailleur’.
A mulher, ao ter hipotecado a sua ternura por troca dum lufa lufa, ao ter trocado um coração palpitante por uma hermafroditação de sentimentos, deixou ao homem o lugar de canastrão da espécie, que se arrasta fazendo carinhas parvas, tentando acompanhar e compreender esta degeneração afectiva da fêmea.
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