As Broncas de Caná & Os Mexilhões no Templo

É de fácil constatação que as melhores considerações sobre Deus vêm daqueles que supostamente não acreditam nele. Não seria difícil arranjar meia dúzia de boas explicações para isto, e, tivesse esta tasca um patrocínio em condições, chegava-se à dúzia de Nietzschezadas devidamente Freudadas sem esforço. No entanto, a mais interessante é a que se prende com isto: o crente, lá no fundo, é um lamechas vaidoso, e, em vez de fazer o servicinho de tentar definir Deus com um paleio em condições, passeia a sua fé que nem Nuno Gomes passeia o penteado, ou seja, absolutamente focado nele, alheado de tudo o resto, perdendo-se contemplativamente na parte mais religiosa do futebol que é, como bem sabemos, o chamado ‘último terço campo’.

O crente tem também outro problema de natureza prática que se prende com o seu ‘complexo apologético’( mais Junguiano, registe-se): é instado a convencer, a atrair, a proselitar e pode inclusivamente acanhar-se ao lhe apetecer fazer um trolaró dos Pet Shop Boys enquanto explicasse a contingência tomista. O dito não crente está mais livre, regra geral está positivamente a borrifar-se para o que irão pensar do que ele diz, desde que depois tenha graveto para comprar os medicamentos para a próstata. O ‘reformismo evangélico’ logrou situar-se um pouco no meio, pois é o ‘Allô Allô’ do fenómeno religioso, ou seja, a dúvida é tratada como um infiltrado com uma fala estranha que namora – sem apalpar - a miúda que trata dos arranjos de flores durante o decantamento exegético.


Quando Nietzsche diz que «Deus também tem o seu inferno; é o seu amor pelos homens» qualquer tipo bem intencionado, que oiça as entrevistas do Mário Crespo, trauteie músicas do Lloyd Cole, e, inclusivamente, até tenha os filhos baptizados pelo p. João Seabra, pode apetecer-lhe enfiar com um daqueles lápis Viarco bem afiado pelo cu acima, no entanto, se virmos bem, Nietzsche – agora vou fazer uma pausa, sorry, está ali a falar o Saldanha Sanches, outros dos homens que também me aproxima bastante da existência de Deus, apesar de me fazer desconfiar daquela porra da arca de noé, ou então alguma sacana duma espécie não devia ter embarcado, adiante – voltei, Nietzsche, ia eu dizendo, vendo bem, faz-nos olhar para Deus com mais ternura, e inclusivamente dá-nos uma visão refrescante sobre os dias que correm ao afirmar que «a virtude consiste em permanecer tranquilamente no pântano», o que, para além de nos demonstrar que Guterres era um pecador, é praticamente a chave para nos libertar do dogma existencialista que nos atravessa desde os anúncios da Triumph ao Tom Waits.

Mas uma das coisas que Niezche não podia saber foi-nos ontem revelado por Rui Santos: «Helder Postiga é um jogador que se realiza nos últimos trinta metros». Ora isto é uma descrição metafórica de toda a Paixão e Redenção que faria S. Lucas encher-se de vergonha e dedicar-se a fazer os relatos do Cafarnaum – Tiberíadeszero, e poria Pilatos a antecipar a teoria Lacaniana: a minha consciência é uma coisa mas eu sou outra bem diferente. Esta agora se calhar não se percebe bem mas escrever isto a fazer bonecos do ovo Kinder ao mesmo tempo não é fácil, foda-se ( o gajito ainda lê mal não se apoquentem)

E isto tudo serviu para chegar à verdadeira analogia que trazia em mente. Os lagartos não precisam de ganhar campeonatos, isso já toda a gente sabe, isso são espartilhos de genoma que transportam os tripeiros, assim como um católico não precisa de saber definir Deus tal qual, porque isso nada lhe adianta no negócio das rifas na paróquia, e então, qual Nietzsche, eu diria que « o campeonato foi inventado para aqueles que são supérfluos» ( e a ver se dão uma injecção de Atarax ao Nani senão qualquer dia o gajo parece o Douala)

( vamos lá ver se o Timshel agora não me lixa com uma música dos Decemberists, ou uma merda assim)

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