Palmira Murcha

Num blog da moda, (dererummundi) lia-se há uns dias em ambiente hamiltoniano:

«De facto, as fêmeas são muito exigentes na escolha dos machos com que acasalam e procuram garantias que o macho escolhido tenha «bons genes» contra parasitas. Para isso é necessário que os machos as convençam da excelência dos seus genes. Para evitar «gabarolices», isto é, publicidade enganosa, as provas da boa qualidade genética são muito dispendiosas em energia: apenas indivíduos com bons genes as conseguem exibir»

No entanto mais fresquinho, temos:


«Na realidade, não obstante todas as evidências em contrário, para o público em geral a imagem que perdura incontestada é a da violência primeva do Homem, a sua tendência intrínseca para o mal, um assassino da própria espécie.»


Tirando gostar da expressão ‘primeva’, porque me parece muito bíblica - se bem que algo discriminadora e não tão abrangente como seria primadão - fiquei enternecido com esta linguagem de precisão científica: ‘para o público em geral a imagem que perdura incontestada’.

De facto sente-se no ar que as pessoas andam assustadas, na rua o alarme é generalizado, em cada ombro pressente-se um assassino cromagnonico, em cada bafo a chama dum dragão enfurecido. Nota-se inclusivamente a alma humana num plano inclinado para o mal, mães a usarem os filhos como aditivo cosmético, cada vez mais patrões a chicotearem os empregados sugando-lhe o suor, em cada gene humano titila um toiro enraivecido, cada menina do gás é olhada como um auschwitz com pernas; morre, inclusive, de facto, hoje, gente que não morria antigamente; sobrevivemos porque caminhamos de negacionismo em negacionismo.


Eu penso que a sociedade devia escolher os seus cientistas que nem uma fêmea.

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