O Eclipse de facto foi ontem, no entanto,
(a utilização da expressão ‘no entanto’ revela já a continuidade dum processo discursivo interior, todo ele muito próprio de seres com tendência mais espiritual, se bem que não desprezem nem os compromissos biológicos para com a espécie, nem os sociológicos para com o próximo)
mme, penso que terá chegado a altura de a confrontar, e de caminho à sua liberdade, criatividade, técnica e expressividade foto-criativa, com o Futurismo Russo. Confesso que às primeiras hesitei um pouco mas queria definitivamente partilhar consigo uma especial, e antiga, predilecção minha com o poeta Viktor (depois começou a usar Velimir) Khlebnikov. Não, não a irei maçar esparramando aqui poesia destrambulhada, espasmos de ‘zaum’ (nome que os gajos deram para a linguagem para além da razão e do sentido – ‘beyonsense’ é uma tradução gira para inglês, não é? até faz lembrar aquela moça jeitosa que canta e tudo, e que daria uma ilustraçãozinha extra em bom na parte final do post, assim de sobremesa, à falta de profiteroles e capilé, pois claro) delirante, mas que ajudou a produzir um dos mais fascinantes poetas russos que se alimentou daquele ‘etimologismo’ egocêntrico de quem usa as palavras fora do seu significado no dicionário, mas sim naquilo que ele achava ser o seu significado inicial e próprio. Mas deixo rápido estas miudezas, a Sra tem as suas coisinhas e não pode perder tempo com as taras dum grafomaníaco como o Kh.
Pois então este rapaz, que escrevia manifestos bárbaros ao mesmo ritmo que correia de campos fecha e abre urgências e sap’s, a dada altura informou ao povo: ‘conhecemos sentimentos que não existiam antes de nós’ (*). Foi das frases mais importantes que li até hoje (tirando obviamente uma ou outra solta da Inês Pedrosa ou do José Lello) , e que combina até muito bem com o próprio enunciado futurista do Khlebnikov: ‘o estudo da influência do futuro sobre o passado’, lembrando uma mistura explosiva entre Kundera, Picasso e a astróloga Maia, ou seja, excessos de ego e de perspectiva.
Ora o poema mais célebre deste artista intitula-se ‘O encantamento do riso’ (para os amigos ‘Zaklinanie smekhom’) e reduz-se a doze linhas a brincar com palavras derivadas de ‘sme’ (riso); saliento (lá está o meu lado masculino outra vez) que a melhor homenagem que lhe podemos fazer é mesmo lê-lo em russo pois perceberemos o mesmo se o lermos numa tradução qualquer, e é esta inclusive uma das suas grandes virtudes, e que o torna um autor tão universal como a aceitação das músicas do Tom Waits no Carnaval de Espinho, o qual, também me parece estar sempre a cantar o poema mais famoso do ‘zaum’, retirado dum livro já ele de titulo bastante sugestivo, ‘Pomada’:
Dyr bul shchyl
Ubeshchur Skum
vy sobu
r l ez
Apesar de isto tudo me lembrar imenso a Beyonce, como já tive ocasião de transmitir supra, não queria deixar de pelo menos aqui plantar uma coisinha em condições do rapaz :
Quando morrem, os cavalos - respiram,
Quando morrem, as ervas - secam,
Quando morrem, os sóis - se apagam,
Quando morrem, os homens - cantam.
É para que vejam.
(*) in Viveiro de Juízes, 1914 (ed. Arcádia, 1971)
(a utilização da expressão ‘no entanto’ revela já a continuidade dum processo discursivo interior, todo ele muito próprio de seres com tendência mais espiritual, se bem que não desprezem nem os compromissos biológicos para com a espécie, nem os sociológicos para com o próximo)
mme, penso que terá chegado a altura de a confrontar, e de caminho à sua liberdade, criatividade, técnica e expressividade foto-criativa, com o Futurismo Russo. Confesso que às primeiras hesitei um pouco mas queria definitivamente partilhar consigo uma especial, e antiga, predilecção minha com o poeta Viktor (depois começou a usar Velimir) Khlebnikov. Não, não a irei maçar esparramando aqui poesia destrambulhada, espasmos de ‘zaum’ (nome que os gajos deram para a linguagem para além da razão e do sentido – ‘beyonsense’ é uma tradução gira para inglês, não é? até faz lembrar aquela moça jeitosa que canta e tudo, e que daria uma ilustraçãozinha extra em bom na parte final do post, assim de sobremesa, à falta de profiteroles e capilé, pois claro) delirante, mas que ajudou a produzir um dos mais fascinantes poetas russos que se alimentou daquele ‘etimologismo’ egocêntrico de quem usa as palavras fora do seu significado no dicionário, mas sim naquilo que ele achava ser o seu significado inicial e próprio. Mas deixo rápido estas miudezas, a Sra tem as suas coisinhas e não pode perder tempo com as taras dum grafomaníaco como o Kh.
Pois então este rapaz, que escrevia manifestos bárbaros ao mesmo ritmo que correia de campos fecha e abre urgências e sap’s, a dada altura informou ao povo: ‘conhecemos sentimentos que não existiam antes de nós’ (*). Foi das frases mais importantes que li até hoje (tirando obviamente uma ou outra solta da Inês Pedrosa ou do José Lello) , e que combina até muito bem com o próprio enunciado futurista do Khlebnikov: ‘o estudo da influência do futuro sobre o passado’, lembrando uma mistura explosiva entre Kundera, Picasso e a astróloga Maia, ou seja, excessos de ego e de perspectiva.
Ora o poema mais célebre deste artista intitula-se ‘O encantamento do riso’ (para os amigos ‘Zaklinanie smekhom’) e reduz-se a doze linhas a brincar com palavras derivadas de ‘sme’ (riso); saliento (lá está o meu lado masculino outra vez) que a melhor homenagem que lhe podemos fazer é mesmo lê-lo em russo pois perceberemos o mesmo se o lermos numa tradução qualquer, e é esta inclusive uma das suas grandes virtudes, e que o torna um autor tão universal como a aceitação das músicas do Tom Waits no Carnaval de Espinho, o qual, também me parece estar sempre a cantar o poema mais famoso do ‘zaum’, retirado dum livro já ele de titulo bastante sugestivo, ‘Pomada’:
Dyr bul shchyl
Ubeshchur Skum
vy sobu
r l ez
Apesar de isto tudo me lembrar imenso a Beyonce, como já tive ocasião de transmitir supra, não queria deixar de pelo menos aqui plantar uma coisinha em condições do rapaz :
Quando morrem, os cavalos - respiram,
Quando morrem, as ervas - secam,
Quando morrem, os sóis - se apagam,
Quando morrem, os homens - cantam.
É para que vejam.
(*) in Viveiro de Juízes, 1914 (ed. Arcádia, 1971)
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