Anita em S. Bento

Com Sócrates no condomínio

Sócrates, mulher a dias diplomada da nossa democracia pós guterriana, avançou que ‘não tem uma agenda de temas fracturantes’. Dando de barato que não era uma recado subliminar para correia de campos fechar mais umas urgências de ortopedia, devo dizer que fiquei com o mesmo descanso com que fica o caniche da minha vizinha de baixo quando esfrega o focinho e lambe na bata da cabeleireira rosnando «isto é demasiada camomila para a minha papila» (e assim ficou o primeiro pensamento canino do mundo entre aspas).

Com Sócrates a ler Alain de Botton

Sócrates, resultado dum programa de auto ajuda em que o PS esteve inscrito, mas sem registo youtubado, apresenta-se à plebe como o governante das causas certeiras, das que nem vale a pensa descortinar uma causalidade mínima, procurando elevar o common sense ao estatuto de filosofia política e antecipando uma nova lei natural baseada no stupidus lupus stupidum.

Com Sócrates no divã com J. Machado Vaz

Sócrates, percursor duma nova terapia sexual em que primeiro vem o sexo e depois os preliminares, parece o recepcionista dum banco de esperma: começa por perguntar ao povo quando foi a última vez que ejaculou e depois diz para reclamarem com o tubinho se não fertilizarem em condições. Pois, já se sabe, não é por muito país-ovário querer fecundar que um povo-espermatozoide fica de rabo a abanar.

Com Sócrates a brincar ao Mr Bean

Sócrates analisava os nossos tiques de povo amante do petisco mas desconfiado de pratos muito decorados, sabia que gostávamos de fungar mas não nos incomodávamos com o pingo no nariz, e por isso concluiu que se devia gastar dinheiro em guardanapos mas em lenços já seria um desperdício. E mandou retirar os espelhos do mercado.

Com Sócrates a confessar-se ao padre Américo

Sócrates, beato do pragmatismo social, desenvolveu a moderna teoria de tirar a uns pobres para dar a outros pobres e tirar a uns ricos para dar a outros ricos, evitando assim promiscuidade e alargando a base de apoio. Como diria qualquer santo de altar: o importante é uma boa base de apoio perto duma caixa de esmolas encerada qb. Ou, como diria o próprio Redentor: ‘o que está feito, está feito’.

Com Sócrates a cantar Jorge Palma

Sócrates sabia que o país estava ‘frágil’, e pôs-lhe o braço no ombrinho, demonstrando que nunca mais ‘jeremias, o fora da lei’ o iria incomodar, e iria transformá-lo na ‘terra dos sonhos’, onde todos poderão ser quem quiserem, ‘à espera do fim’, que nos assentará como uma luva. Mas, até lá, ‘deixa-me rir’, pela tua rica saúde, até porque ‘a gente vai continuar’.

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