Pink-Punk

Leio hoje no Público que Sócrates vai criar o seu think- tank no ps e que confiou a sua organização a Santos Silva, o ministro dos cortes em directo - o que até bate certo pois trata-se duma vocação clara de iluminado cruzado a enciclopedista, que é das combinações mais valiosas, como sabemos.

Este think-tank do ps começará por uma 1ª fase de drink-tank que servirá para discernir sobre o papel do socialista moderno, esse novo modelo de reformista social e esclarecido, essa reincarnação de um Kerenski na alma dum Willy Brandt (mas já não houve verba para ter o corpinho do al gore ou gajas como a segolene), e promoverá a construção do chamado homem novo destilado num alambique de valores e princípios dos quais destacaria as previsíveis fraternidade e a igualdade (mas embrulhadas em celofane por causa do bolor) a par do amocha-e-não-estrebucha-que-eu-agora-não-tenho-tempo-para-te-explicar-e-o-jorge coelho-foi-comprar-gravatas-novas, e do clássico ‘o que tem que ser tem muita força’.

Quando o drink-tank passar este seu primeiro momento de adaptação – no fundo o tempo necessário para edite estrela atinar com um penteado definitivo – transformar-se-á em drunk-think aquela fase em que se escolherá o perfil do português médio: cumpridor fiscal, não produtor de coliformes, coincinerante e amante da concorrência. Manuel Pinho nessa altura ficará com os direitos exclusivos para as figuras do menino Jesus das lojas dos chineses e os ministros da cultura serão promovidos a ilustradores de fábulas de La Fontaine, a única actividade cultural que merece ser subsidiada pelo estado, a par das espargatas da Olga Roriz que passarão a ser monumento nacional itinerante.

Esgotada esta fase intermédia passar-se-á ao processo puro de think-drunk que já representa uma recuperação definitiva do imaginário português, o chamado regresso às nossas origens, a preparação da nossa alcoolização progressiva e controlada, a entrega dos fígados à ciência universal, e podermos ser finalmente as grandes iscas da Europa, senão mesmo o patê da Civilização, com o nosso Alberto João a fornecer a especialidade ‘aux herbes’.

Empolgados com esta nova faceta de Miguel Angelos da portugalidade, os socialistas entrariam num estilo mais drink pink, com patrocínio óbvio do Mateus rosé, e que servirá para relançar os valores da universalidade do 5ª império em versão largo do rato; pretende-se que cada português transporte um ser tecnológico e exportador, inovador e de griffe, sexualidade a la carte, mesmo que uns desgraçados tenham de nascer na via rápida para Badajoz, a fim de que uma gajas boas possam abortar em segurança ali na zonas de Picoas, mas repletos de consciência social que, como se sabe, é a única que não sofre de vacas locas dada a sua espongicidade natural.

A etapa final do processo criativo socialista será o think-punk; constatando a impossibilidade de em Portugal se estabelecer um estado previdência baseado no homem novo socialista, irreversivelmente conspurcado que está na origem com os ideais conservadores e salazarentos, e que nunca conseguiu assimilar os liberalismos tetrapack, verificar-se-á que é necessária uma revolução estética nas mentalidades baseada no visionarismo científico, género o ‘povo põe e o socialismo dispõe’, e que o português do futuro decidirá como Mourinho, vestirá como Severiano Teixeira, cantará o fado como Marisa, casará com modelos como o Figo, fará praia no nordeste brasileiro, só lerá autores nomeados para o booker prize, e, claro, sacará boas reformas ao arrogantemente superavitário estado espanhol e nunca mais será o drink-trunk da europa.

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