‘Um’ homenage aos poetes que muite me proporcionaram’

Sim, o nosso Ramalho Eanes também foi proporcionado pelas bênçãos da ‘brisa fresca’ das palavras em degrauzinhos e vai ter a sua recolha de poemas publicada na série do Público. Ora constar que alguém foi proporcionado é algo que me deixa roído de inveja, é verdadeiramente o meu sonho. Trata-se dum verbo riquíssimo de conteúdo e até de uma morfologia léxica bastante envolvente (assemelha-se mesmo a um motor a dois tempos sem estar afogado em óleo). No fundo, aquilo que todos procuramos na vida, qual asterixes, é a verdadeira proporção mágica: sabermos o peso, conta e medida da parte do mundo que nos cabe e a parte onde devemos caber, (mesmo sabendo, claro, que temos um coraçãozinho do tamanho do mundo, e unhas dos pés enormes se não as cortarmos, e pêlos nas orelhas - os homens por cauda dos tais genes holândricos – e mais uma enorme gama de etceteras de todos os tamanhos e feitios, incluindo fogagens na testa por causa da merda das azeitonas; acho). Em geral – tirando as fases mais sôfregas (abençoadas) - estamos conscientes que ‘os bois se comem às postas’ ou seja, por porções, e que daí deriva uma das características da nossa condição (zinha, também, nos dias de lua nova): irmo-nos fazendo. Muitas vezes ‘vão-nos fazendo’ também, mas isso é uma expressão que tem ganho um cariz duvidoso e por isso afastá-la-ei da análise deste maravilhoso mundo do proporcionalismo científico. Quando algo nos é assim proporcionado deveríamos por inerência passar a ser pessoas proporcionadas, expressão também ela algo ambígua pois remete-nos para imaginários de músculos bem desenhados e/ou formas bem esculpidas (digo imaginários, porque neste preciso momento nada se me passa, neste capítulo, fora do maravilhoso mundo da imaginação); mas isso nem sempre acontece, pois receber uma boa porção por vezes não é acompanhado do devido processo da sua incorporação eficaz neste todozinho querido com que nos pavoneamos mais ou menos alegremente, e muitas vezes não passamos de dentaduras postiças com pernas a querer partir nozes (que também dá para plural de ‘nós’ neste enquadramento antroplogico-semantico-trocadílhico, note-se). Vocês já não estão a acompanhar isto, eu sei, não sabeis aproveitar estes momentos únicos que eu vos podia proporcionar, mesmo não fazendo parte da antologia escolhida do nosso Eanes. Sim, nosso, se há algo que eu considero verdadeiramente nosso património, é o nosso Eanes, (ali entre a barragem da Aguieira e a cozinha do mosteiro de Alcobaça) alguém que a revolução nos proporcionou, lá está, algo que as forças armadas nos deram sem exigir continência, (um bocadinho de abstinência, vá lá, mas também nada que não se remediasse com umas cervejitas e umas anedotas porcas) uma gracinha no fundo. Hoje, em modus absurdus, penso: que bons tempos nos proporcionastes, ó Ramalho, e que a poesia te continue a proporcionar também. Como diz o Timshel (*), o que é preciso é equilíbrio e fio condutor (mas esqueceu-se que, se a corda estiver muito bamba, ainda podemos saltar com ela). A proporcionalidade à dignidade dos altares, é o meu desejo, Manelinha volta estás perdoada.

(*) http://timoteoshel.blogspot.com (não sei por links nesta coisa).

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