Protestólicos e Cantantes
Volto ao apaixonante tema. O Cristianismo ecuménico-institucional devia alimentar ainda uma maior amplitude creditícia em vez de estarem sempre a tentar encontrar pontos de união que nem costureiras amestradas. A concorrência doutrinal é uma coisa boa; há pessoas que se dão melhor com um cagaço apocalíptico, outras com um Deus misericordioso em cada esquina, outras com um Deus tão fundo lá no coração delas que quase nunca chega às unhas, nem aos dentes, nem aos outros órgãos mais periférico-pendentes, não há nada a fazer, o Criador ‘pensou-nos e fez-nos’ mais variados que uma boa salada russa, mais mistela que os cogumelos que a minha irmã começou a fazer quando se casou (e, portanto, a primeira vez que entrou numa cozinha por moto próprio e com um mínimo de provas a dar a terceiros; sim miúda, se leres isto, ficas a saber que me traumatizaram tanto como a primeira vez que li os teus sublinhados nos livros do Desmond Morris).
Quem vai a uma missa católica (a única que eu frequento, saliente-se, como ressalva epistemológica) encontra a maior diversidade de espécimes acreditantes desde a cena dos sermões da montanha na versão monty python. Ele é o pessoal que acabou de sair da cama e foi directo para a igreja, ela é a gaja que se vestiu de propósito e verteu todo o santo frasco de perfume mais parecendo um sacrário com pernas, ele é o tipo que não tira os olhos da miúda da viola, ela é a velha que fez madeixas à pressa (há que alimentar a minha clientela de leituras cabeleireirísticas), ele é o compenetrado (palavra mais sodómica que babélica por sinal), ele é o arrumador à espera que aquilo acabe depressa, ele é o pai de família a fazer a boa acção da semana com os putos às cavalitas, registe-se, no entanto, que cada vez se vêem menos rapazes vestidos como o blog da Inês há uns dias (talvez seja até por isso que as miúdas interessantes se andam a afastar do reino da Deus) no fundo aquilo é um fartote de gente tão diferente, que Darwin nunca conseguiria definir um padrão para a selecção da espécime ‘crente católico’, nem que incensasse um pia benta cheia de tartarugas.
Geralmente um tipo é católico por tara. Acredita porque acredita, ouve padres a dizer as maiores banalidades porque ouve, põe-se de joelhinhos porque põe, bichana umas palavras na maior parte das vezes sem tomar a mínima atenção porque faz assim desde pequenino, remói-lhe a puta da consciência por coisas que a outros os leva a ir beber umas cervejolas, enfim um rol de criteriosas características que, geralmente, depois resumem (e resumo eu, porque me incluo) explicando que é por amor, mas que lá por dentro sabem bem que também é uma ganda borradela em ir para o inferno, combinada com uma ausência de alternativas que garantam um espírito saudável sem excesso de comprimidos ou álcool. Sem a vida eterna, parecemos todos uma junk bond a olhar para um certificado de aforro. Essa é que é essa.
Como se constata já perdi o fio da meada a esta porra - deverei levar mais uma advertência formal pela madame que enfiou aqui a Salomé, avisando-me subliminarmente que eu também me chamo João – mas recupero ainda a ideia inicial, porque a havia, saliente-se: os protestantes (calvinic style) crêem num certo determinismo salvífico, mas no íntimo, desejam é que Deus os oriente e ajude a safarem o deles, e os católicos (origenes style), que acreditam na especial mais valia do seu esforço pessoal, e no perdão e assim, lá no íntimo sonham é que Deus Nosso Senhor os tenha escolhido para pajens na Sua corte celestial. Moral da história, a união faz-se logo no egoísmo próprio de toda a relação religiosa – pode-se acreditar em matilha ou em rebanho, mas morremos eremitas. E aviso já, eu cá, se for preciso para salvar a almita, até danço o fandango a recitar os salmos para o grupo folclórico dos adventistas alzeimerados de Caxias, é que nem precisam de fazer nenhum sínodo de conciliação, nem pagar-me com preservativos benzidos. Isto falta é uma carta apostólica sobre os drive-in, o sexo tântrico, a espessura do papel bíblia e o acto de assobiar as músicas (interiormente, note-se) dos arcade fire no momento da comunhão.
Volto ao apaixonante tema. O Cristianismo ecuménico-institucional devia alimentar ainda uma maior amplitude creditícia em vez de estarem sempre a tentar encontrar pontos de união que nem costureiras amestradas. A concorrência doutrinal é uma coisa boa; há pessoas que se dão melhor com um cagaço apocalíptico, outras com um Deus misericordioso em cada esquina, outras com um Deus tão fundo lá no coração delas que quase nunca chega às unhas, nem aos dentes, nem aos outros órgãos mais periférico-pendentes, não há nada a fazer, o Criador ‘pensou-nos e fez-nos’ mais variados que uma boa salada russa, mais mistela que os cogumelos que a minha irmã começou a fazer quando se casou (e, portanto, a primeira vez que entrou numa cozinha por moto próprio e com um mínimo de provas a dar a terceiros; sim miúda, se leres isto, ficas a saber que me traumatizaram tanto como a primeira vez que li os teus sublinhados nos livros do Desmond Morris).
Quem vai a uma missa católica (a única que eu frequento, saliente-se, como ressalva epistemológica) encontra a maior diversidade de espécimes acreditantes desde a cena dos sermões da montanha na versão monty python. Ele é o pessoal que acabou de sair da cama e foi directo para a igreja, ela é a gaja que se vestiu de propósito e verteu todo o santo frasco de perfume mais parecendo um sacrário com pernas, ele é o tipo que não tira os olhos da miúda da viola, ela é a velha que fez madeixas à pressa (há que alimentar a minha clientela de leituras cabeleireirísticas), ele é o compenetrado (palavra mais sodómica que babélica por sinal), ele é o arrumador à espera que aquilo acabe depressa, ele é o pai de família a fazer a boa acção da semana com os putos às cavalitas, registe-se, no entanto, que cada vez se vêem menos rapazes vestidos como o blog da Inês há uns dias (talvez seja até por isso que as miúdas interessantes se andam a afastar do reino da Deus) no fundo aquilo é um fartote de gente tão diferente, que Darwin nunca conseguiria definir um padrão para a selecção da espécime ‘crente católico’, nem que incensasse um pia benta cheia de tartarugas.
Geralmente um tipo é católico por tara. Acredita porque acredita, ouve padres a dizer as maiores banalidades porque ouve, põe-se de joelhinhos porque põe, bichana umas palavras na maior parte das vezes sem tomar a mínima atenção porque faz assim desde pequenino, remói-lhe a puta da consciência por coisas que a outros os leva a ir beber umas cervejolas, enfim um rol de criteriosas características que, geralmente, depois resumem (e resumo eu, porque me incluo) explicando que é por amor, mas que lá por dentro sabem bem que também é uma ganda borradela em ir para o inferno, combinada com uma ausência de alternativas que garantam um espírito saudável sem excesso de comprimidos ou álcool. Sem a vida eterna, parecemos todos uma junk bond a olhar para um certificado de aforro. Essa é que é essa.
Como se constata já perdi o fio da meada a esta porra - deverei levar mais uma advertência formal pela madame que enfiou aqui a Salomé, avisando-me subliminarmente que eu também me chamo João – mas recupero ainda a ideia inicial, porque a havia, saliente-se: os protestantes (calvinic style) crêem num certo determinismo salvífico, mas no íntimo, desejam é que Deus os oriente e ajude a safarem o deles, e os católicos (origenes style), que acreditam na especial mais valia do seu esforço pessoal, e no perdão e assim, lá no íntimo sonham é que Deus Nosso Senhor os tenha escolhido para pajens na Sua corte celestial. Moral da história, a união faz-se logo no egoísmo próprio de toda a relação religiosa – pode-se acreditar em matilha ou em rebanho, mas morremos eremitas. E aviso já, eu cá, se for preciso para salvar a almita, até danço o fandango a recitar os salmos para o grupo folclórico dos adventistas alzeimerados de Caxias, é que nem precisam de fazer nenhum sínodo de conciliação, nem pagar-me com preservativos benzidos. Isto falta é uma carta apostólica sobre os drive-in, o sexo tântrico, a espessura do papel bíblia e o acto de assobiar as músicas (interiormente, note-se) dos arcade fire no momento da comunhão.
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