Conto de Beachbop & swinging days III

Mas ainda estava guardado Charlie Parker para um Relaxin’ at Camarillo, a fazer jus ao nome e a preparar a pele para ‘funky blues’. Muitas vezes só vale mesmo a pena a música que se sabe deixar arrastar, que sabe ’ficar para aí’, como aqueles amores que não conseguem ser escritos porque envergonham as palavras, e vivem tanto das pausas como dos frenesins. Charlie Parker enervava-o, porque fazia o inesperado tornar-se previsível, como se o livre arbítrio fosse uma brincadeira para deuses com falta de animação. As coisas mais insípidas da vida são as surpresas e os crescendos em piano porque, ainda para mais, dão a ilusão de que o céu é o limite, quando, o limite somos nós. Quer estejamos organizados em estados, ou bandos ou pandilhas; ou seitas, ou quartetos de cordas. Quer o nosso desejo fosse apenas fugir para Cantaloupe Island enquanto a alma ficava à espera do seu ponto rebuçado. Se bem que, se bem que, todos temos um dia em que trocaríamos a alma por um bolo de chocolate ou por arbitrar uma troca de galhardetes entre Parker e Monk.

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