A natureza da companhia de Deus
{1} O Homo pragmaticus e desenrascadus arrumou a questão da transcendência pensando que Deus ora é ‘uma invenção de pessoas ingénuas e felizes’ (*) ou uma necessidade de pessoas tristes e com sentimentos de culpa. (depois, por um ligeiro agravamento de preço ficam disponíveis as outras combinações).
{2} Resolvida a questão teórica ficamos com a questão prática: como ignorar, e viver como que ignorando, que esse Algo que existe. É fácil: 1º da mesma maneira que quando andamos não estamos sempre a pensar que temos pernas mas elas estão lá; 2º algo pode existir (vamos ficar sem esmiuçar o conceito de existência) e não se revelar aos nossos sentidos e razões, assim de repente, e a título de exemplo, lembro-me da música a alguém duro de ouvido, ou um gajo sexualmente arrebatador a uma gaja frígida.
{3} Viver sem Deus é portanto possível e até gestionável (desde, claro, que não percamos as pernas, fiquemos surdinhos ou provoquemos a frigidez na mulher próxima) mesmo que isso nada acrescente à nossa condição (à semelhança de ser lampião ou de gostar do cd dos ‘Final Fantasy’). Surge agora a outra questão fundamental: como viver com Deus, querendo isto dizer: com a sua companhia e com a sua especial – mas algo desconhecida – ontologia. Existem várias opções, nos extremos estão: dum lado o escrúpulo e do outro a banalização. Todos balançamos entre eles, tal e qual como o malabarista quando tem as bolas na mão e está em cima do arame: ou pensa que aquela merda se vai desconjuntar toda a qualquer momento, ou faz aquilo a mascar pastilha elástica e a pensar que vai comer a miúda loura da terceira fila da plateia.
{4} No blog 'A natureza do mal' escreveu-se há uns dias: «há quem se sinta acompanhado por deus (…) não aprecio a sorte de quem com eles caminha. Deve ser incómodo dar a mão, a quem está sempre assim tão acompanhado»; é algo duro de ouvir, até por se entender que pode haver ali alguma - mesmo subjectiva, talvez - razão; Deus é algo que se comunica, se ‘explica’ até, mas nunca é algo que realmente se divida, se dê à competição, à concorrência, ao ciúme. Mas agora não consigo analisar isto fora da conversa de sacristia, da aparência de egoísmo da fé, do amor, da fraternidade e do caraças, foda-se. Bem que já me tinham avisado.
{1} O Homo pragmaticus e desenrascadus arrumou a questão da transcendência pensando que Deus ora é ‘uma invenção de pessoas ingénuas e felizes’ (*) ou uma necessidade de pessoas tristes e com sentimentos de culpa. (depois, por um ligeiro agravamento de preço ficam disponíveis as outras combinações).
{2} Resolvida a questão teórica ficamos com a questão prática: como ignorar, e viver como que ignorando, que esse Algo que existe. É fácil: 1º da mesma maneira que quando andamos não estamos sempre a pensar que temos pernas mas elas estão lá; 2º algo pode existir (vamos ficar sem esmiuçar o conceito de existência) e não se revelar aos nossos sentidos e razões, assim de repente, e a título de exemplo, lembro-me da música a alguém duro de ouvido, ou um gajo sexualmente arrebatador a uma gaja frígida.
{3} Viver sem Deus é portanto possível e até gestionável (desde, claro, que não percamos as pernas, fiquemos surdinhos ou provoquemos a frigidez na mulher próxima) mesmo que isso nada acrescente à nossa condição (à semelhança de ser lampião ou de gostar do cd dos ‘Final Fantasy’). Surge agora a outra questão fundamental: como viver com Deus, querendo isto dizer: com a sua companhia e com a sua especial – mas algo desconhecida – ontologia. Existem várias opções, nos extremos estão: dum lado o escrúpulo e do outro a banalização. Todos balançamos entre eles, tal e qual como o malabarista quando tem as bolas na mão e está em cima do arame: ou pensa que aquela merda se vai desconjuntar toda a qualquer momento, ou faz aquilo a mascar pastilha elástica e a pensar que vai comer a miúda loura da terceira fila da plateia.
{4} No blog 'A natureza do mal' escreveu-se há uns dias: «há quem se sinta acompanhado por deus (…) não aprecio a sorte de quem com eles caminha. Deve ser incómodo dar a mão, a quem está sempre assim tão acompanhado»; é algo duro de ouvir, até por se entender que pode haver ali alguma - mesmo subjectiva, talvez - razão; Deus é algo que se comunica, se ‘explica’ até, mas nunca é algo que realmente se divida, se dê à competição, à concorrência, ao ciúme. Mas agora não consigo analisar isto fora da conversa de sacristia, da aparência de egoísmo da fé, do amor, da fraternidade e do caraças, foda-se. Bem que já me tinham avisado.
(*) expressão usada num livro da Iris Murdoch
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