smsantologia [hors-série]
Já uma volta déramos aos montes
E em seu caminho o sol andara mais
Do que julgara minha mente absorta.
No meio do nosso caminho aceso
Outra gente ao encontro desta vinha
E suspenso pus nela meu olhar.
Ali vi apressar-se dos dois lados
Cada sombra e beijarem-se uma a uma
Alegres, sem parar, na breve festa.
Assim nas filas negras as formigas
Uma com a outra juntam os focinhos
Talvez pra perguntar qual o caminho.
"Ó minha força, porque assim te afastas?"
Comigo disse, pois eu já sentia
A potência das pernas pedir tréguas.
Nós estávamos onde não subia
Mais a escada, estávamos parados
Como uma nave quando chega à praia.
Depois, quando essas sombras se afastaram
Tanto de nós, que já não se avistavam,
Surgiu dentro de mim novo pensar,
Do qual outros diversos derivaram,
E tanto entre uns e outros divaguei
Que os olhos de tão vagos se fecharam
E os pensamentos sonhos se tornaram.
Dante, A. (1981). "Purgatório". In A divina comédia. Lisboa: Círculo de Leitores. Tradução de Sophia de Mello Breyner Andresen et al.
Etiquetas:
Dante
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário