Arejando, à falta de problemas com celulite, casca de laranja e excessivo arredondamento de formas
Um dos grandes contributos da teologia é ensinar-nos que é preferível andar com as calças na mão do que com o diabo à perna. A nossa condição comporta efectivamente alguns riscos, desde o mais óbvio de podermos chegar a não distinguir a existência de Deus no intervalo dos pingos da chuva, até ao limite de sermos levados ao encanto lírico-intelectual com alguma parvoeira que alguém tenha escrito em ‘letra botada em carreirinha’. Aliás, a literatura (nos seus mais variados e decadentes sortidos) tem-se comportado como uma evidência da degradação da espécie, senão vejamos como meros exemplos: enquanto aquela xaropada da Odisseia andava apenas de boca em boca ninguém desgastava o aparelho digestivo a elevar a mito os problemas hormonais da Penélope, e até antes dos evangelhos passarem a escrito, os primeiros cristãos ora eram comidos pelos leões, ora crucificados, ora feitos em churrasquinho, ora se borravam de medo nas catacumbas entre duas jogatanas de king, mas jamais perdiam tempo a descortinar figuras de estilo nos sermões da montanha, e isto para já não falar de que bastou os índios deixarem de ter verbas para os sinais de fumo que o pessoal teve de ir logo a correr inventar o verso livre. Um triste espectáculo. Se civilização é isto, vou ali e já venho. No fundo, escrever é praticamente a mesma coisa que mexer na lingerie de mulher mas sem a mulher, e é de facto uma pena verificar que até há gente de bom coração, gente até com a mais refinada estatura moral e conveniente doutrina, e mesmo com as capacidades procriativas e estimulativas teoricamente intactas, gente que chega a entender a espaços as idiosincrasias do sexo oposto, mas que acaba por desperdiçar os seus neurónios enleados na futilidade da escrita. Ora é nesta decorrência que a Teologia moderna deveria deixar para segundo plano a resolução de problemas como os bichos de estimação dos casais de paneleiros, pôr de lado o estudo do potencial erótico do umbigo das adolescentes, e deveria fazer marcação cerrada a pessoal que escreva coisas sem nexo e que ainda por cima nem rimem. Retomo o fio à meada: uma coisa é andarmos com as calças na mão a fugir das tentações, outra é deixarmos que o diabo nos morda pensando nós que era um bicho-da-seda com cio. Se podemos decorar a vida com o mármore da ilusão (mais ou menos freudiana) porquê contentarmo-nos com fórmica do paleio (mais ou menos proustiano ou joyciano) , esta é a grande questão do nosso tempo; e se podemos ter uma consciência em estilo manuelino porquê contentarmo-nos com um inconsciente colectivo folheado a mogno com incrustações de Manuel Pinho. Mas ter consciência é realmente ter de assumir alguns riscos, e por isso, a Teologia deveria era preparar o mundo para combinar Deus e a mini-saia, o Espírito Santo e as calças justas, os Sacramentos e o decote de geometria variavel, e preparar-nos para definitivamente não ficar deliciados com a bela escrita, que nem judeus aos risinhos nervosos porque viram fazer um milagre ao sábado. E a exegese (ora mais folclórica, ora mais teológica) em vez de metonimizar sodomas e gomorras nos novos anúncios da sloggy, deveria era procurar afastar as almas dos Blooms, dos Botons e dos novos reader digests do liberalismo anglo-cacofónico e fazê-los compreender que o único cânone que vale a pena é o das bodas de caná: no final isto há-de acabar tudo com uma grande piela, mas só vomitarão os que tiverem dado serventia à literatura marada. E agora volto para dentro e vou ali a Badajoz pedir para que me repitam a amniocintese.
Um dos grandes contributos da teologia é ensinar-nos que é preferível andar com as calças na mão do que com o diabo à perna. A nossa condição comporta efectivamente alguns riscos, desde o mais óbvio de podermos chegar a não distinguir a existência de Deus no intervalo dos pingos da chuva, até ao limite de sermos levados ao encanto lírico-intelectual com alguma parvoeira que alguém tenha escrito em ‘letra botada em carreirinha’. Aliás, a literatura (nos seus mais variados e decadentes sortidos) tem-se comportado como uma evidência da degradação da espécie, senão vejamos como meros exemplos: enquanto aquela xaropada da Odisseia andava apenas de boca em boca ninguém desgastava o aparelho digestivo a elevar a mito os problemas hormonais da Penélope, e até antes dos evangelhos passarem a escrito, os primeiros cristãos ora eram comidos pelos leões, ora crucificados, ora feitos em churrasquinho, ora se borravam de medo nas catacumbas entre duas jogatanas de king, mas jamais perdiam tempo a descortinar figuras de estilo nos sermões da montanha, e isto para já não falar de que bastou os índios deixarem de ter verbas para os sinais de fumo que o pessoal teve de ir logo a correr inventar o verso livre. Um triste espectáculo. Se civilização é isto, vou ali e já venho. No fundo, escrever é praticamente a mesma coisa que mexer na lingerie de mulher mas sem a mulher, e é de facto uma pena verificar que até há gente de bom coração, gente até com a mais refinada estatura moral e conveniente doutrina, e mesmo com as capacidades procriativas e estimulativas teoricamente intactas, gente que chega a entender a espaços as idiosincrasias do sexo oposto, mas que acaba por desperdiçar os seus neurónios enleados na futilidade da escrita. Ora é nesta decorrência que a Teologia moderna deveria deixar para segundo plano a resolução de problemas como os bichos de estimação dos casais de paneleiros, pôr de lado o estudo do potencial erótico do umbigo das adolescentes, e deveria fazer marcação cerrada a pessoal que escreva coisas sem nexo e que ainda por cima nem rimem. Retomo o fio à meada: uma coisa é andarmos com as calças na mão a fugir das tentações, outra é deixarmos que o diabo nos morda pensando nós que era um bicho-da-seda com cio. Se podemos decorar a vida com o mármore da ilusão (mais ou menos freudiana) porquê contentarmo-nos com fórmica do paleio (mais ou menos proustiano ou joyciano) , esta é a grande questão do nosso tempo; e se podemos ter uma consciência em estilo manuelino porquê contentarmo-nos com um inconsciente colectivo folheado a mogno com incrustações de Manuel Pinho. Mas ter consciência é realmente ter de assumir alguns riscos, e por isso, a Teologia deveria era preparar o mundo para combinar Deus e a mini-saia, o Espírito Santo e as calças justas, os Sacramentos e o decote de geometria variavel, e preparar-nos para definitivamente não ficar deliciados com a bela escrita, que nem judeus aos risinhos nervosos porque viram fazer um milagre ao sábado. E a exegese (ora mais folclórica, ora mais teológica) em vez de metonimizar sodomas e gomorras nos novos anúncios da sloggy, deveria era procurar afastar as almas dos Blooms, dos Botons e dos novos reader digests do liberalismo anglo-cacofónico e fazê-los compreender que o único cânone que vale a pena é o das bodas de caná: no final isto há-de acabar tudo com uma grande piela, mas só vomitarão os que tiverem dado serventia à literatura marada. E agora volto para dentro e vou ali a Badajoz pedir para que me repitam a amniocintese.
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