Catecismo ribonucleico
O biólogo comenta o teólogo.

Pode assistir-se, e em directo, no Memória-Inventada. Ora como tudo é memória, como diria – aqui ficava bem pôr Lili Caneças, mas vou evitar – qualquer sujeito que tivesse levado uma forte marretada na carola em qualquer dos hemisférios, tudo é possível, tudo pode ser semântico, tudo pode ser figura de estilo, tudo pode estar relacionado com um neurónio mais atrevido e nada nos deve apoquentar. Ficamos pois a saber, porque foi o Gould quem o disse claro, que ciência e religião são dois magistérios de influência (tipo Mário soares, mas em bom) que não se tocam; constituem, por assim dizer, uma sublimação epistemológica do estilo ‘ir às putas’, ou seja: tudo menos beijos na boca. Terei – felizmente – de deixar Darwin em paz, para não assarapantar as hostes das ciências vintage, e pouco me adiantarei sobre o Teilhard porque de teólogos não reza a história, but, mind your own business, tenho de conseguir brincar às metáforas com um biólogo e alcançar o pleno de nem invocar o nome de Deus em vão, nem fora de mão.
Uma das coisas que os biólogos nunca conseguiram ‘dominar’, e isso enerva-os, é normal, gostavam de ser Aristóteles mais sofisticados, é essa coisa da ‘espécie’. No fundo a ‘espécie’ está para eles como a ‘vontade de mijar’ para os filósofos e para os economistas: não há ‘ontologia’ , nem ‘expectativa’ , nem ‘recurso escasso’ que a consiga retirar do topo das pirâmide das necessidades.

A tese subjacente do M.I. (passou a tese mesmo sem ser preciso meter mais moedas – subjacente é bónus) é a de que a teologia não tem razão de existir essencialmente porque já houve tipos ‘condenados’ como grandes malandros mas que afinal eram bons pais de família e até com boas possibilidades de serem sócios do belenenses com as quotas em dia. E, assim sendo, a Ressurreição não só é uma grande galga, ao nível das teorias do espermatozóide aquecido, como é na condição biológica e psico-social (esta já foi outro bónus) do homem que radica toda a sua definição. Esgotamo-nos pois no ADN e no divã, eventualmente com uns ‘pozinhos’ de macumba nos dias mais enevoados.

A transcendência presente na nossa condição é algo fodido, sim. Eu percebo isso bem, mas a mim também me lixa não ter guelras quando estou a nadar, só que já me custava mais terminar a minha existência como uma enguia num ensopado. Foi tipo uma bucha de discurso.

Esse Richard Goldsmith – tive que ir ver quem era porque o meu curso é daqueles dos fáceis e não falam desses artistas - parece-me bom moço, e até me lembra agora que a raiz latina de ‘monstro’ também quer dizer 'maravilha', 'coisa fantástica', o que lhe confere uma auréola de mistério que, no fundo, é do que todo o crente precisa e de que se alimenta senão fica desfeito com tanto positivismo de almanaque à solta.

Rasgar as vestes pela apropriação duma terminologia evolucionista aplicada à Redenção convoca-me aqui ao raciocínio (reparem ao ponto que eu já cheguei neste contacto com a magistratura da ciência) que o homem biológico do Biafra se assemelha ao homem biológico, que, por exemplo, dorme na Casa Branca e, aparente e estranhamente, também teria beneficiado por igual da tal de Ressurreição como ‘quality jump’ ( é inglês científico). Ora isso aos olhos da bioquímica parece um absurdo, mas aos olhos dum fradeco qualquer enleado na escolástica bolorenta parece plausível! Conclusão: está na altura dos biólogos e dos teólogos irem para África de mãos dadas acabar com o servicinho que o Redentor, pelos vistos, deixou incompleto. E às refeições, como serão escassas, podem continuar a brincar às metáforas.

Ao desprezarmos a teologia e a religião em geral, por mais brincadeira semântica que nos pareça, faremos das ciências exactas eternas reféns do pleonasmo permanente e da sorte. Se a Ressurreição for uma fraude, se nem sequer for uma evoluçãozita, à direita do Pai estará certamente o Stanley Ho.


nota: o artigo do Frei Bento Domingues pareceu-me bom ( e deveria ser lido todo para assim melhor se enquadrar a frase do Papa e o texto do M.I.) e até estive para escrever aqui sobre ele. Assim, depois de ler o post do M.I. tornou-se mais fácil, é como a técnica percorrida nas tais ciências vintage: ir avançando, cavalgando nas elucubrações alheias. Sem desfeita, claro, pois qualquer não crente, face ao despautério científico, até se deveria ter chegado à frente e ter escrito como o MI ( o Vasco) o fez.

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