Quaresma XXIX
Isto disse Mario ...
«quando eu escrevi Tia Julia, pensava exclusivamente em contar a história de Pedro Camacho, o autor de novelas de rádio. Quando eu já tinha o romance adiantado pareceu-me que essa história se iria converter em uma espécie de jogo mental, uma espécie de divertimento. Iria parecer muito pouco verosímil. E eu (...) tenho uma espécie de mania realista. Então ocorreu-me a ideia de produzir uma espécie de contraponto(...) uma história pessoal, que fosse como uma ancora do romance fincada na realidade vivida.(...) Ao tentar isso, dei-me conta de que não se pode fazê-lo – quer dizer, quando alguém escreve ficção, há um elemento de efabulação, de irrealidade que se introduz sempre, mesmo contra a vontade do próprio autor, inclusive nesses episódios – digamos assim verídicos. Assim, o resultado foi que a história pessoal era tão delirante como a outra.»
... Vargas Llosa numa entrevista a Ricardo Setti editada pelo D. Quixote ( 1988, pg 58) referindo-se ao seu livro ‘ A tia Julia e o Escrevedor’ (ed D. Quixote). Neste livro pode ler-se ( pg 223) isto:
«quando eu escrevi Tia Julia, pensava exclusivamente em contar a história de Pedro Camacho, o autor de novelas de rádio. Quando eu já tinha o romance adiantado pareceu-me que essa história se iria converter em uma espécie de jogo mental, uma espécie de divertimento. Iria parecer muito pouco verosímil. E eu (...) tenho uma espécie de mania realista. Então ocorreu-me a ideia de produzir uma espécie de contraponto(...) uma história pessoal, que fosse como uma ancora do romance fincada na realidade vivida.(...) Ao tentar isso, dei-me conta de que não se pode fazê-lo – quer dizer, quando alguém escreve ficção, há um elemento de efabulação, de irrealidade que se introduz sempre, mesmo contra a vontade do próprio autor, inclusive nesses episódios – digamos assim verídicos. Assim, o resultado foi que a história pessoal era tão delirante como a outra.»
... Vargas Llosa numa entrevista a Ricardo Setti editada pelo D. Quixote ( 1988, pg 58) referindo-se ao seu livro ‘ A tia Julia e o Escrevedor’ (ed D. Quixote). Neste livro pode ler-se ( pg 223) isto:
« A história do Reverendo Seferino Huanca Leyra, o pároco da estrumeira que confina com o futebolístico bairro de La Victoria e que se chama Mendocita, começou há meio século atrás, numa noite de Carnaval, quando um jovem de boas famílias, que gostava de tomar banhos de povo, cometeu estupro numa azinhaga de Chirimoyo com uma lavadeira donairosa: a Negra Teresita.
Quando esta descobriu que estava grávida e como já tinha oito filhos, carecia de marido e era improvável que, com tantas crianças, um homem a levasse ao altar, recorreu rapidamente aos serviços de dona Angélica, velha sábia da Praça da Inquisição que tinha o ofício de parteira, mas era sobretudo fornecedora de hospedes para o limbo(...) Contudo, apesar das peçonhentas infusões ( da propria urina com ratos esmagados) que dona Angélica deu a beber à Negra Teresita, o feto do estupro, com teimosia que fazia pressagiar o que havia de ser o seu carácter, negou-se a desprender-se da placenta materna, e ali continuou, enroscado como um parafuso, a crescer e a formar-se, até que, cumpridos os nove meses dos fornicátórios carnavais, a lavadeira não teve outro remédio senão pari-lo»
Será que um dia, à entrada das maternidades, ainda se instalarão agências de providencias cautelares? É que me parece que existem vagas a menos e advogados e críticos literários a mais.
Sem comentários:
Enviar um comentário