Contos de acreditares imaginados

Deus já tinha entrado no coração dele antes de ler Ratzinger escrever que «a experiência com Deus – a experiência a que chamamos fé, só quem entra nela consegue descobrir alguma coisa; só quem participa da experiência formula perguntas, e só quem pergunta recebe respostas.» Nunca se tinha identificado na angústia pascaliana, nunca tinha sentido o apelo a alguma inevitabilidade da submissão da razão, e também nunca tinha encontrado suficiente segurança e consolo num resumo jesuítico género ‘no que é necessário, unidade; no duvidoso, liberdade; em tudo, caridade’. Preocupava-o aquela lógica de que a fé era algo difícil de se viver sozinho, mas acabava por só ganhar força acreditando em algo que outros já tivessem acreditado com lucro, procurando não desperdiçar nem Graças, nem Vontades. Não tinha coração nem cabeça para contradições, e safava-se melhor com mistérios e scrabbles de heterodoxias, fugindo a sete pés da ‘salvação alcançada num cepticismo que limpasse o dogmatismo intimo que sofria’. Sentia que só um bom labirinto nos afasta dum abismo.

Nota: algumas frases, que estão 'assinaladas' , são adaptadas – se bem que descontextualizadas – do Unamuno.

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