Agora, Deus, claro.

Hoje as notícias da tarde vinham ‘recheadas’ duma desgraçada morte de 6 pessoas num bairro de barracas ( bairro do fim do mundo). Dei há muitos anos, e durante alguns anos, catequese em zonas muito degradadas as cidade de Lisboa e por isso convivi de perto com alguns dos sinais mais extremos da miséria da nossa condição que acabavam por ser vividos pelos próprios das mais diversas maneiras. Desde a revolta à resignação, passando pelo comodismo e pela sincera luta em mudar, e muitas, muitas vezes, tal como nos é próprio: tudo isto misturado.

Esta ocorrência ‘jornalística’ – achei entretanto interessante que o repórter da TSF para saber pormenores sobre aquelas pessoas tivesse entrevistado um ‘freira salesiana’: pelos vistos «quem realmente conhecia aquelas pessoas e aqueles lugares», mas de republicanos, socialistas e laicos, nicles, por isso se elegerem algum para a presidência ainda vou aos cornos a alguém – fez-me lembrar e ir reler que « o sofrimento do oprimido tornou-se (...) o lugar hermenêutico donde nasce o conhecimento da verdade » escrito pelo então Cardeal Ratzinguer no início da década de 90 no seu livro ‘A Igreja e a nova Europa’.

Neste mesmo livro é relevado que «a teoria dos direitos do homem se fundamenta na convicção da ‘criaturalidade’ do Homem, feito à imagem e semelhança de Deus» e que desta deriva a metafísica ocidental. E de facto eu ‘daqui’ não consigo sair quando olho para a brutalidade dos factos quando estes nos são mais próximos e que, se forem apenas avaliados à luz dois valores da civilidade e dos direitos acabam por se esfumar no mesmo tipo de profundidade que possuem todos os existencialismos.

Tornou-se interessante reparar que ainda no referido livro – por lá fui ‘ficando’ enquanto o Polga e o Paíto e o Nelson vão dando uns brindes a uns cabrões duns louros – encontro, numas páginas antes, que muitas vezes somos levados a «substituir a verdade pelos “valores”, procurando chegar, sobre eles, a um acordo ao menos parcial.». E eis aqui o refúgio «analgésico» dos nosso tempos: os tais valores; no fundo muitas vezes apenas filhos do «cepticismo e da desilusão acerca das possibilidades do conhecimento» a fazer as figuras de bailarinas numa cenografia talhada para o uso de saltos altos.

Apetecia-me dizer que prefiro mil vezes uma fé imberbe e tosca, mas ‘rebocável’ pela presença de Deus, a uma arquitectura sofisticada de valores em contínua crise de acessibilidades. Olha, disse.
E vamos a prolongamento. Foda-se, claro.

Sem comentários: