The original sin(ging)
(pré-texto para um ensaio neo-rafaelita post-fosforilado)
Ao contrário de ti, nem sou poeta nem sei filosofia. Por essa razão também não serei capaz de, à tua semelhança, inventar palavras - tão pessoais que só tu saberás o significado - como forma de sobreviver à falta da luz que me é tão essencial quanto a noite às corujas.
[no entanto há muito que nos meus sonhos entrava escrever num blogue, era uma espécie de 'entrada no reino do céu dos pardais' que, sendo a barriga dos gatos, só podia encantar-me mas nada sabendo de agá-tê-émieles via-me a braços (bruços também mas noutro local) com a precoce despedida do sonho em que sairia do anonimato (não é ilustre mas toda a gente sabe que esse é só para quem nele acredita e depende muito da lâmpada e do abat-jour) e me tornaria musa (também servia divã mas com pouco Addict para não opacificar o écran) blogosférica]
Tal como tu, gosto de sentir e gosto das palavras e gosto de sentir com as palavras. Ainda que sabendo haver, para cada um de nós, um número certo e limitado de palavras esforço-me por resistir à inevitável usura das que deixamos escapar - e das que evitamos sem avareza.
[quando optei pelo regime de hospedagem (devidamente contratado em papel azul de vinte e cinco linhas e com registo notarial) tive a garantia por parte do senhorio de uma adequada recepção: a inclusão de fundos com flores e odores num template até então mais ascético (e asséptico?) que colarinho de cónego, comentários a certificar a excelsa qualidade da minha 'intidade', uma grafonola a debitar um bem sincopado ritmo de 2-por-3, uma caixa de correio para receber memórias descritivas da aderência ou da concorrência, respondíveis em concurso público ou em post-público que é muito mais giro e sempre dá assunto e publicidade]
Talvez seja, como me dizes entre sorrisos, a elitista intransigente que - tal como ou ao contrário de ti? gosta tanto do gosto pela inteligência de Valéry, da loucura lúcida de Michaux e do cepticismo apaixonado de Cioran como da irreverência de Aleschinky, da sensualidade de Picasso ou do kitsch de Lempicka; como dos flamengos, demasiado próximos na minha vida para que neles reparasse e que me fizeste redescobrir, há tanto tempo, lembras-te?, através de um van der Ast cujas flores me ofereceste, ou dos escritores russos perdidos há quase três décadas e de que quase não me recordava - hoje, excepcionalmente, baixa as guardas e despe a reserva admitindo gostar de alguém para além dos advérbios.
[neste momento até mareei a olhar para o "name-dropping" lá em cima, há quem se dê a cada coisa... e linques para o rapaz da anatomopatolografia, para o escritor de poemas espanquianos, para o quase-jornalista-económico-político amador, para o especialista em rabecas e oboés, para o humorista desempregado por excesso de qualificação, enfim, o que necessitaria para ter a atenção do mundo cá dentro sem que, ostensivamente, tivesse de explicar a realidade do que já todos deveriam teriam percebido pelos diversos sinais e harpejos (e desenhos, etc, sim, sou loira mas explico-me nem que para tal gaste rios de conversa fiada e repetitiva ou de imagens sem sentido ou de pescadas, digo, postas a soarem a concerto de música das esferas): a existência de uma estrela subestimada de uma galáxia pré-blogbânguica, que cometeu o pecado original (e grande erro estratégico) de não abrir o seu próprio blogue]
E agora que me aventurei pelos temas, conceder-me-ás?, da fé deixa-me dizer-te ainda que, pouco ou nada sabendo de fenomenologia nem sendo carmelita mas evocando Edith Stein, também é "coisa muito minha" o tão rigoroso e difícil, quanto quase impossível, critério com que adopto a verdade protectora que é a gestão da vivência que se acoberta numa palavra enigmática como "silêncio". Para, citando de memória a mesma Edith Stein de quem, no entanto, dificilmente serei seguidora ideológica, poder dizer: "não lamento ter-me dado até ao Amor".
(pré-texto para um ensaio neo-rafaelita post-fosforilado)
Ao contrário de ti, nem sou poeta nem sei filosofia. Por essa razão também não serei capaz de, à tua semelhança, inventar palavras - tão pessoais que só tu saberás o significado - como forma de sobreviver à falta da luz que me é tão essencial quanto a noite às corujas.
[no entanto há muito que nos meus sonhos entrava escrever num blogue, era uma espécie de 'entrada no reino do céu dos pardais' que, sendo a barriga dos gatos, só podia encantar-me mas nada sabendo de agá-tê-émieles via-me a braços (bruços também mas noutro local) com a precoce despedida do sonho em que sairia do anonimato (não é ilustre mas toda a gente sabe que esse é só para quem nele acredita e depende muito da lâmpada e do abat-jour) e me tornaria musa (também servia divã mas com pouco Addict para não opacificar o écran) blogosférica]
Tal como tu, gosto de sentir e gosto das palavras e gosto de sentir com as palavras. Ainda que sabendo haver, para cada um de nós, um número certo e limitado de palavras esforço-me por resistir à inevitável usura das que deixamos escapar - e das que evitamos sem avareza.
[quando optei pelo regime de hospedagem (devidamente contratado em papel azul de vinte e cinco linhas e com registo notarial) tive a garantia por parte do senhorio de uma adequada recepção: a inclusão de fundos com flores e odores num template até então mais ascético (e asséptico?) que colarinho de cónego, comentários a certificar a excelsa qualidade da minha 'intidade', uma grafonola a debitar um bem sincopado ritmo de 2-por-3, uma caixa de correio para receber memórias descritivas da aderência ou da concorrência, respondíveis em concurso público ou em post-público que é muito mais giro e sempre dá assunto e publicidade]
Talvez seja, como me dizes entre sorrisos, a elitista intransigente que - tal como ou ao contrário de ti? gosta tanto do gosto pela inteligência de Valéry, da loucura lúcida de Michaux e do cepticismo apaixonado de Cioran como da irreverência de Aleschinky, da sensualidade de Picasso ou do kitsch de Lempicka; como dos flamengos, demasiado próximos na minha vida para que neles reparasse e que me fizeste redescobrir, há tanto tempo, lembras-te?, através de um van der Ast cujas flores me ofereceste, ou dos escritores russos perdidos há quase três décadas e de que quase não me recordava - hoje, excepcionalmente, baixa as guardas e despe a reserva admitindo gostar de alguém para além dos advérbios.
[neste momento até mareei a olhar para o "name-dropping" lá em cima, há quem se dê a cada coisa... e linques para o rapaz da anatomopatolografia, para o escritor de poemas espanquianos, para o quase-jornalista-económico-político amador, para o especialista em rabecas e oboés, para o humorista desempregado por excesso de qualificação, enfim, o que necessitaria para ter a atenção do mundo cá dentro sem que, ostensivamente, tivesse de explicar a realidade do que já todos deveriam teriam percebido pelos diversos sinais e harpejos (e desenhos, etc, sim, sou loira mas explico-me nem que para tal gaste rios de conversa fiada e repetitiva ou de imagens sem sentido ou de pescadas, digo, postas a soarem a concerto de música das esferas): a existência de uma estrela subestimada de uma galáxia pré-blogbânguica, que cometeu o pecado original (e grande erro estratégico) de não abrir o seu próprio blogue]
E agora que me aventurei pelos temas, conceder-me-ás?, da fé deixa-me dizer-te ainda que, pouco ou nada sabendo de fenomenologia nem sendo carmelita mas evocando Edith Stein, também é "coisa muito minha" o tão rigoroso e difícil, quanto quase impossível, critério com que adopto a verdade protectora que é a gestão da vivência que se acoberta numa palavra enigmática como "silêncio". Para, citando de memória a mesma Edith Stein de quem, no entanto, dificilmente serei seguidora ideológica, poder dizer: "não lamento ter-me dado até ao Amor".
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