Desmaker residence

A decepcionista

À menina da recepção faltava-lhe só um tudo-nada para fazer os clientes felizes: desperdiçava-se com a obsessão das regras do preenchimento da papelada, para ela tudo se resumia aos procedimentos do check in ou do check out, à recolha dos elementos, ao consumo de mini-bar, e não reparava que os clientes apenas queriam conversar; derramava-lhes explicações sobre o funcionamento do ar condicionado, das persianas eléctricas, das horas de entrada, das horas de saída, falava-lhes do iva incluído, e não reparava que eles apenas queriam ficar a olhar para ela ali ao balcão, pedir-lhe uma sugestão para um restaurante, dum sítio para passear e assim ver-lhe as mãos a deslizar pelo mapa bem esticado, mas nada disso lhe interessava, para ela tudo era expediente, um enquadramento, um cliente, e ela geriria esse casamento. E eles acabavam por se ir embora sem sequer experimentarem a ousadia de lhe pedir que soltasse o cabelo: bem recebidos mas decepcionados. Nem um olhar carinhoso, nem um fastio desopilado num soprar de franja, nem um «fique mais uns dias que eu arranjo-lhe uma tarifa só para si». Eles iam-se embora sem energia nem à vontade para esboçar um lamento mas ainda ficavam com ciúmes por causa do amor que ela tinha ao regulamento.

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