Traz-me os sais...
O primeiro, e não menor, dos problemas com que me confrontei ao acordar foi olhar-me ao espelho e dar de trombas com o cromo feminino que lá se plasmou: uma gaja ruiva ou loira, sei lá bem!, de cabelo espetado, pintalgada por milhões de sinais e sardas e práì 1,80 m completamente recheados de matéria orgânica. "Chiça", pensei, "isto é o raio do meu negativo ó quê?! se ainda fosse a sacana da Barkin... a Marceau não? nem a Garbo???" Depois descobri que não só tudo quanto as calças me apertavam na anca (até isto vim a descobrir no meu corpinho, antes só as conhecia pelo toque) me sobrava na cintura (e foi aqui que compreendi finalmente o veneno contido no recadito "tens de vender calças e comprar **") mas ainda que a camisa só servia se ficassem abertos os 3 ou 4 primeiros botões. Por outro lado a filha-da-mãe da gravata atada ao pescoço também não ficava nada bem que a minha ropinha de trabalho não é porra (só esta! até o Tiresias teve direito à indignação ou não?) nenhuma de versão feminina by YSL de smoking e aquelas duas calotes esféricas a darem cabo, a empurrão, das casas dos botões também não correspondiam à minha ideia de pinças de gravata. Não chegou a ser preciso calçar os sapatos nem olhar de novo o espelho para ter a certeza de me ter tornado uma obra-prima rauschenberguiana digna de destaque na colecção do Guggas. Aguardava-me, no entanto, a mais cruel das surpresas: a Zulmira não só não pareceu ter notado o que quer que fosse de novo em mim como até começou a manhã com um convite bem mais provocante e criativo que os do costume o que me levou a concluir da justeza do almodóvariano preceito que reza (ou lá que é!) "todas las chicas son, aunque un poco, lesbianas". E quando ao fim da tarde, como se não bastasse tudo o resto e como que prevendo que ainda tentava recuperar-me do efeito conjugado de umas cervejolas a acompanhar os caracóis e do déficit de desidrogenase alcoólica próprio das gajas, a Zu me apontou um "Shirley Temple" preparado a desvelo, baralhou-se um pedacinho quando lhe gritei "Nem pensar! Só me faltava agora que se soubesse que bebi isso e bato com a lombar no DIAP a prestar declarações!!!" Foi, com efeito, um dia terrível: se da visão da cópula herpêntica tinha resultado a metamorfose (voltem, Kafka e Crony... perdoo tudo...) que me atirou para o abismo de Eva (antes uma Afrodite agachada, não?) não foram necessários sete anos (nem sequer sete dias, nem sete horas, a bem dizer) e novo encontro erótico para constatar a incapacidade de suportar, por mais um segundo que fosse, a tortura da visão daquela redezinha ridícula a ocultar uma parte do rosto da moça de olhos mortiços e boquinha em esgar amorangado. Já muito mareado e a ver desenhos labirínticos em tons de azul , pedi num último esforço antes de me apagar "Traz-me os sais..."
O primeiro, e não menor, dos problemas com que me confrontei ao acordar foi olhar-me ao espelho e dar de trombas com o cromo feminino que lá se plasmou: uma gaja ruiva ou loira, sei lá bem!, de cabelo espetado, pintalgada por milhões de sinais e sardas e práì 1,80 m completamente recheados de matéria orgânica. "Chiça", pensei, "isto é o raio do meu negativo ó quê?! se ainda fosse a sacana da Barkin... a Marceau não? nem a Garbo???" Depois descobri que não só tudo quanto as calças me apertavam na anca (até isto vim a descobrir no meu corpinho, antes só as conhecia pelo toque) me sobrava na cintura (e foi aqui que compreendi finalmente o veneno contido no recadito "tens de vender calças e comprar **") mas ainda que a camisa só servia se ficassem abertos os 3 ou 4 primeiros botões. Por outro lado a filha-da-mãe da gravata atada ao pescoço também não ficava nada bem que a minha ropinha de trabalho não é porra (só esta! até o Tiresias teve direito à indignação ou não?) nenhuma de versão feminina by YSL de smoking e aquelas duas calotes esféricas a darem cabo, a empurrão, das casas dos botões também não correspondiam à minha ideia de pinças de gravata. Não chegou a ser preciso calçar os sapatos nem olhar de novo o espelho para ter a certeza de me ter tornado uma obra-prima rauschenberguiana digna de destaque na colecção do Guggas. Aguardava-me, no entanto, a mais cruel das surpresas: a Zulmira não só não pareceu ter notado o que quer que fosse de novo em mim como até começou a manhã com um convite bem mais provocante e criativo que os do costume o que me levou a concluir da justeza do almodóvariano preceito que reza (ou lá que é!) "todas las chicas son, aunque un poco, lesbianas". E quando ao fim da tarde, como se não bastasse tudo o resto e como que prevendo que ainda tentava recuperar-me do efeito conjugado de umas cervejolas a acompanhar os caracóis e do déficit de desidrogenase alcoólica próprio das gajas, a Zu me apontou um "Shirley Temple" preparado a desvelo, baralhou-se um pedacinho quando lhe gritei "Nem pensar! Só me faltava agora que se soubesse que bebi isso e bato com a lombar no DIAP a prestar declarações!!!" Foi, com efeito, um dia terrível: se da visão da cópula herpêntica tinha resultado a metamorfose (voltem, Kafka e Crony... perdoo tudo...) que me atirou para o abismo de Eva (antes uma Afrodite agachada, não?) não foram necessários sete anos (nem sequer sete dias, nem sete horas, a bem dizer) e novo encontro erótico para constatar a incapacidade de suportar, por mais um segundo que fosse, a tortura da visão daquela redezinha ridícula a ocultar uma parte do rosto da moça de olhos mortiços e boquinha em esgar amorangado. Já muito mareado e a ver desenhos labirínticos em tons de azul , pedi num último esforço antes de me apagar "Traz-me os sais..."
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