E eu se calhar tenho mesmo de acabar com isto porque noto que não estou a conseguir conter –me.



Diz o Avatares (ora quem haveria de ser, pois!): «Falo de uma geração nutrida por uma solidariedade transnacional e fortemente apostada na desestabilização trazida pela construção de uma "legalidade inesperada"»



Se esta expressão toda era para descrever o “falo” de uma geração, eu então penso que estamos mesmo fodidos, Bruno.


Vamos pois ao diálogo de gerações, se bem que eu pense – isto é quase pensamento antropológico, hem – que uma geração começa a destruir-se quando começa a ter consciência de si própria (mas isto é praticamente só um “suponhamos” disfarçado)



Temos assim a tal “Geração com Falo nutrido” (G.F.N.) e a outra, a “Geração amolecida no comodismo duma flacidez de ideais” (G.A.C.F.I.), em diálogo:



GFN – Nós vemos já o mundo como ele será, sem constrangimentos, sem privações ideológicas, o mundo será um convés e jamais o nosso coração será um contentor à deriva! Hoje a libertação será uma pílula de certezas, não nos deixaremos corromper pelo supositório (vem do verbo supor, note-se) de valores arcaicos, mas amanhã a libertação será conseguirmos viver todos na Terra como se fosse num grande Útero, banhados pela mesma Placenta.



GACFI – Perdão, vou ter de os interromper involuntariamente, mas não posso deixar de considerar que mais vale ir de veleiro para uma praia deserta comendo abacates, do que dormir num porão e acordar para dizer disparates



GFN – As rimas atordoam os conceitos que valem a pena. É no porão dos grandes mitos que se forjam as verdadeiras epifanias.



GACFI – A música da Simone não é bem assim, no entanto, se querem saber, eu dou-me melhor numa esplanada com uns percebes e vinho branco do que com epifanias e cerveja quente; não gosto de me privar de nada (mas não gramo associações que não tenham chás dançantes), só assim se cumpre a existência hedonista para a qual fomos talhados e que apenas recalcamos por conveniências de aparência social ou moral.



GFN – Com paralisias civilizacionais é que nós não iremos pactuar. Sentimo-nos orgulhosamente uma geração de clivagens. E não nos revemos nos hedonismos, nem de Laclos, nem de Epicuro, queremos Foulcault para sempre.



GACFI – Nós não conhecemos esses gajos que não aparecem nos livros do Paulo Coelho, e por acaso até nos sentimos mais à vontade nas declivagens por causa do ski, no entanto respeitamos os mais radicais, desde que depois tomem banho.



GFN – Uma geração que vive para o asseio das convenções nunca perceberá o seu verdadeiro destino. É nas grandes conspurcações de ideias que se forjam os gritos da verdadeira libertação



GACFI – Vocês vivem agarrados à bigorna, chiça, e quero ver os gritos que ainda vão dar quando se esquecerem lá do dedinho entalado à mercê da martelada capitalista e liberal.



GFN – Não há ferrete nem moral que nos refreie! Não será a viscosidade do vosso lacre que nos fará derrapar! Nós traremos a «legalidade inesperada», nós seremos o diferencial que nos levará ao novo eixo da “solidariedade transnacional”. Seremos uma nova mecânica. As nossas baterias têm os bornes mais deeps e não desfalecerão, não estamos à mercê de qualquer ligação directa com os interesses instalados.



GACFI – Nós para já só fazemos as revisões nas garagens da marca, isso é claramente algo que nos distinguirá estruturalmente! Contamos sempre com o ACP para as falhas do motor de arranque. Não queremos “desestabilizar “ o nosso rumo, queremos chegar ao monte a horas da caçada.



GFN – Nem comentamos os vossos caprichos, é o vosso comodismo que iremos derrubar. Não somos uma “geração de classe”, somos uma “geração de ética revolucionária”. Envolvidos mas não embrulhados é o nosso lema. E só temos laços com o futuro.



GACFI – Vocês saíram-nos foram umas belas prendas. Felizmente que se anda a desenvolver a co-geração e assim vocês ainda serão assimilados. Ou pensam o quê, ó “falos nutridos”, quem manda nisto são as mulheres, e a electricidade é feminina como sabemos, sereis sempre reféns dos úteros que libertardes, sereis sempre joguetes de Afrodite. Liguem à terra, ó pazinhos.



GFN – Não faremos de botões à vossa verborreia de punho rendado. Não seremos os arlequins do vosso burguês comodismo.



GACFI – Tudo menos chamarem-nos burgueses comodistas! Amanhã iremos também fundar uma associação: será a “Não te co(h)ibas”. Jamais fumaremos dessa merda. Também dizemos merda, e só fumaremos “Romeu e Julieta”; Raios Partegas para uma sociedade acomodada. Também temos consciência de geração transgressora, ó caraças.

Sem comentários: