O mundo da estética mostra-nos a existência de conceitos banhados duma ambiguidade quase indecente. Vendo bem, acabo por preferir que o dicionário não ilustrado seja meramente decorativo, apenas prestando vassalagem às donzelas da ornamentação. Entradas 752 a 761.



Interessante – É o que fica a meio caminho, ali especado, confiando na sedução que provoca a mera possibilidade ou a indecisão. É um simples conceito de passagem, feito para vendedores ambulantes que nunca voltarão para responder e dar a cara pelo material defeituoso. ( « gostou?»)



Expressivo – No fundo, só o seremos em condições se tivermos sorvido antes do copo da ingenuidade. Mas depois poderemos ser facilmente substituídos por uns recortes de papel de lustro.



Decente – Sermos aprumados e limpinhos é uma boa característica em qualquer desfile paroquial. Não garante um entusiasmante odor natural, mas não é nada que não se consiga resolver com um pindérico spray de madrinhas empenhadas.



Autêntico – Quem tem o secreto sonho de ser o dono do selo branco. Mas que pode ficar limitado a fazedor de carimbos de empreitada.



Capaz – Uma espécie de jeitoso, mas com as unhas limpas, e eventualmente sabendo fazer o nó da gravata. Não trazer as ideias com a “fralda de fora” é condição sine qua non.



Sensibilidade (com) – Quem apenas quer fazer sentir, não é merecedor do seu parir. O sentido é uma convenção para obcecados com as regras do trânsito. Correremos o risco de ser uns meros ofertantes de Impulse numa passadeira para peões.



Honesto – É o que importa verdadeiramente, pois no final descobrimos que somos meros comissionistas de mercadoria alheia. Só que muitas vezes esta característica quando se revela é porque já há alguém a viver à conta e à grande com a nossa comissão.



Imaginativo – Aquilo que nos deixa na dúvida entre sermos o buraco da fechadura espreitando para o que é novo, ou sermos o desconsolo do que é meramente evocação, recuperando de forma atrasada algo que já existe. A verdadeira âncora está na imitação, quem não repara nisso anda a remar à toa.



Razoável – Forte candidato a asco mor dos epítetos. Geralmente vem acompanhado com salada lúcida, mas já temperadinha com coerência exprimida.



Raridade – O que não pode ter o emoção de ser açambarcado. Limita-se a ser guardado para ir gerindo o bafio.

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