Não fiques rubberizado



“Onde está então o segredo?

Nos pneus, só pode estar nos pneus!

Já nos tínhamos habituado à sua evolução contínua, mas este ano parece que estamos mais no domínio da revolução.

(...)

A guerra, também nos pneus, está mais aberta do que nunca.

A Michelin vai ser obrigada a reagir, o que vai elevar ainda mais o nível.

Até onde? Onde está o limite da borracha?”




Quem escreve isto é meu amigo. É o que se chama um gajo sério. Tem o terrível defeito de só falar do que sabe. É “maluco” por carros. Mas à “conta da borracha dos pneus” “explica-nos” que o “mundo” está a rolar depressa demais por causa duma “merda” que nem é dura, nem é mole. Como a verdade. Como os factos. Como o poder.



Hoje vou-lhe telefonar e perguntar-lhe quem é que ele acha que matou mais: se “Sharon + Arafat” ou se “umas tais de contas na Suiça do tal de presidente dum tal de país que foi dum tal de Portugal”. Ele vai-me responder que pôr tudo no mesmo saco não explica nada. Que eu sou um viciado no mito da continuidade. Que baralhar só se usa nas cartas, e que eu sou evasivo porque não tenho ideias firmes sobre nada, e que me refugio num humor estéril.



Não vai dizer nada disso. Ele é meu amigo do peito. Fia-se é demais na borracha. Eu sou mais de mudanças automáticas. E travo com o pé esquerdo para poder acelerar ao mesmo tempo

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