O recorrente uso de K. Popper para nos reavivar o racionalismo democrático e liberal é um esforço válido. O contra-a-corrente no passado dia 6 de Outubro brindou-nos com uma dança de conceitos Poppianos, que nos pode fazer mirrar o espírito se não for descodificada. O novo Dicionário não ilustrado, que aprendeu com K. Popper que “ninguém sabe o suficiente para ser intolerante”, vacilou mas avançou :( entradas 208 a 215 )



Estado (A necessidade do) – A tímida e camuflada mentalidade utilitarista olha para os conceitos com a pala da necessidade para se proteger da luz. Com este “grilhão”, o estado fica preso ao inútil critério de ser preciso. Depois, se é um bem ou um mal, escolhe-se conforme as rimas mais de feição.



Ditadura e democracia – A distinção entre estes dois conceitos, quando baseada na apreciação do método afecto a cada um deles para “aliviar a sociedade do seu governo”, induz-nos na conclusão de que, na democracia não nos desembaraçamos do governo nem com sangue, e na ditadura quando o sangue escorre, o governo nem embaraçado fica. Em qualquer caso, o novelo da sociedade deve ser tricotado por quem tem mãos de fada.



Distribuição de beneplácitos – Nas ditaduras os benefícios são atribuídos a eito mas com jeito, nas democracias são entregues aos “ésses”, por isso chamam-se benesses.



Instituições democráticas ( inofensivas e radicadas na tradição) – Aparentemente, na democracia há um seguro contra todos os riscos à borla desde que existam instituições de “pedra”. Tudo radicaria na força estatística da tradição, ou seja: o que aconteceu, tem forte probabilidade de ter acontecido. Portanto, se um leão nunca comeu um choco, há fortes probabilidades de um tubarão nunca comer uma gazela. O mundo democrático é dos chocos e das gazelas e está a salvo das instituições predadoras.



As Instituições e os indivíduos – Aparentemente ligados pelos insuspeitos valores individuais, verifica-se – tradicionalmente também – que esses vínculos, muitas vezes têm apenso um cartão de crédito, um motorista, e outros “valores”. De facto, as instituições por si só não bastam, por isso é que se inventaram as “ajudas de custo” para quando é preciso ir espairecer delas.



Restrições da liberdade individual – “Repartidas e reduzidas” lê-se no pregão. As boas “práticas quotidianas” ajudam a interpretação dos “princípios gerais” e ilustram o dito pregão liberal. As “generalidades e as abstracções” sempre foram boas para as indústrias tipográficas e editoriais, e más para o artesanato. A revolução industrial ainda anda aí. Só que com esse nome já não vende.



Convicção evolucionista (Liberalismo de) – Claro que os macacos não sabem o que ainda lhes espera. E nós sabemos que não podemos voltar para trás. Não sei quem está melhor. Bem... somos nós, porque somos nós que visitamos os “gajos” e os nossos amendoins já vêm com picante. O evolucionismo liberal bem pode ser um reducionismo revolucionário envergonhado.



Tradições (que corporizam o sentido de justiça e decência) -Corporizar, se for com as mãos, chama-se manipular. Ora se manipular, for massajar com decência, espero que façam justiça à massagista.

Diz a tradição que estamos nas mão de Deus : o Supremo Massagista. A democracia vai para a bicha como os outros.

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