Hoje o novo dicionário não ilustrado vai enrebanhar um pouco – pra desenjoar. Pelo menos que seja por uma causa inútil. ( entradas 232 a 237 )



Pedreiro – Profissão fornecedora de alegres mitologias em torno das mãos calejadas. Revela a sua moral no respeito alquímico da mistura de cinco de areia com uma de cimento. A perfeição atinge-se no espatulado de fino reboco que afaga o tijolo e acolhe a tintura. Muitos já se consolam se as paredes fizerem esquadria.



Escritor – Profissão cliente de todas as mitologias que fermentam em torno de mentes delicadas. A moral deve viver suspensa, para que a mistura das palavras não redunde numa cartilha de avulsos pudores, enxertada de previsíveis rancores. A perfeição atinge-se no fino fraseado que consola o ego e acolhe o aplauso. Muitos já se contentam com o prefácio dum génio de circunstância.



mas já que estamos nisto...



Comentador – Profissão manipuladora das mitologias mais frágeis. A sua moral encontra-se no deixar algumas migalhas para os que têm a triste sina de chafurdar na ingrata realidade (os comentados). Estes parapolíticos da 4ª geração atingem a sua plenitude quando com uma sibilina previsão provocam uma brutal colisão. Muitos já se satisfazem com uma inversão de marcha.



Jornalista – Profissão banalizadora das mitologias mais importantes e catalizadora das mitologias mais banais. A sua moral apenas se adivinha em não fazer a necrologia dos parentes mais chegados. A perfeição da profissão é alcançada quando se tornam os “guardiães das setas” nas colunas do “sobe e desce”. Muitos já se contentam em olhar para o próprio nome impresso em bold.



Juiz procurador – Profissão de pastorícia das mitologias. A sua moral está em deixar o rebanho em suspenso para a eventualidade da chegada do lobo. A perfeição atinge-se quando todos nos sentimos pilha galinhas. Muitos já de contentam em fazer uma gola com a pele da raposa.



Psiquiatra – Profissão de engomador de mitologias. A sua moral revela-se na vergonha que têm de não poder ter uma moral bem vincada. O clímax é atingido quando produzem um inconsciente de betão, através da mistura de cinco doses de trauma e uma de obsessão, sem ser preciso juntar muita água. Muitos já se contentam em garantir uma maquilhagem que não derreta (nem com as câmaras...) ou então uma consciência que seja um sonho de alvenaria.

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