Às vezes penso que sou um bocado cão rafeiro. Não sou como os de raça, que são especialmente sensíveis, tudo lhes “implica com os nervos”. Mas não sou dado a rosnar. Estava neste pensamento fútil e irrelevante quando fui atacado pela zoológica do poder. O novo dicionário não ilustrado estava atento e ficou em cima de um galho à espreita.

( entradas 184 a 194 )



Vacas sagradas – São os ruminantes da política moderna. Ficam anos “moendo” povo, e depois fazem o resto da digestão num agradável pasto em pousio, ou atrapalhando o trânsito aos outros



Elefantes brancos – Quando na selva se encontra uma clareira e até dá jeito uma sombra, geralmente não há tempo para plantar uma árvore porque podem aparecer as feras da concorrência. Os grandes paquidermes são então uma boa opção, pelo menos para alçar a perna e aliviar rápido a bexiga do poder.



Peixe graúdo – Figuras que, mareadas pelas ondas do poder, quando são postas à venda na “lota das urnas” julgam que merecem uma padiola de luxo.



Enguias – Quando uns deslizam e escorregam por entre as mãos enrugadas de quem nada sabe, outros – coitados - ficam de “mãos a abanar “ olhando para a pele lustrosa de quem tudo soube



Aves raras – Pássaros de porte intermédio que pairam sobre os acontecimentos, e que de vez em quando dão uma cagadela mágica pensando que estão a semear sabedoria



Arraia miúda – Quando uma varina de pregão avulso é impotente perante os pregadores de verdades escamadas, congeladas e empacotadas



Pescadinha de rabo na boca – Fisionomia peculiar do simbolismo autofágico, mas que na realidade revela um forte apego do poder à circularidade; ou por outra palavras : “ o que acaba, acaba por nunca acabar ”



Rato ( parido pela montanha ) – Quando o poder, prenhe de saber , dá à luz uma ninhada de nada, e no sopé da miséria, corre um rio seco de ilusões. Esta é a poesia rasca que merece o parolo que se deixou deslumbrar por um embrulho.



Coelho ( saído da cartola ) – Quando a varinha mágica é um “pau mandado”, as magias dão-se todas no bolso do ilusionista



Moscas mortas – Insectos dissimulados. São apenas nódoas num sistema em que comer com as mãos é a regra. O que fede, fede mais quando se mexe.



Carneiro( e os seus olhos quando está mal morto ) – Animal com tendência para o “enrebanhamento” ( não é gralha...), e quando para olha para trás de um outeiro desconfia sempre que está lá um pastor da concorrência.

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