Consenso , dispenso



A “consensualização” julgo que provoca deseconomias em qualquer sistema. Arriscaria até que roça a perversidade na economia do discurso, na economia do pensamento, e na economia da acção. Concedo apenas que seja um mero autoregulador ( como agora está na moda...e parece que todos acabam por gostar...) da energia errática e frágil do compromisso.



Sou levado a demonstrar ( espectáculo !) isso, socorrendo-me ( numa 1ª etapa) duma breve e avulsa lista, mas criteriosa..., de funestas consequências , inevitáveis apoucamentos, ou apenas tristes sinas:

Temos então que o consenso ( num sentido lato do termo ) aparece nomeadamente...quando:



Na "lógica" desportiva
: abdicamos do ataque porque o empate é já um bom resultado para todos

Na "lógica" do casamento : por vezes se tem de abdicar de algo de próprio, em prol da sã convivência e da sustentação de um bem considerado superior.

Na "lógica" da concorrência : se abdica de certos mercados/produtos para os concorrentes, no intuito de poder ser dominante noutros.

Na "lógica" da política : se abdica da decisão “correcta” de longo prazo, para aprovar a medida suportável por todos no curto prazo

Na "lógica" do jornalismo : se abdica de uma “busca da verdade” impossível, por uma boa notícia plausível e comestível

Na "lógica" do pensamento: se abdica de conviver com duas ideias aparentemente contraditórias, por uma síntese suportável

Na "lógica" do humor : se abdica de uma ambiguidade delirante, para nos fixarmos numa caricatura palpável e risível

Na "lógica" da arte – se abdica de uma expressão pessoal e redutora, para escolhermos uma expressão compreensível e abrangente

Na "lógica" dos transportes – se abdica de um caminho mais sinuoso, lento, pitoresco e seguro, para outro por onde se chega mais depressa, mais gente usa e é mais largo.

Na "lógica" da memória – se abdica de lembranças inoportunas e conflituosas com a actualidade, para nos lembrarmos apenas do que “não faz mal ao estômago”

Na "lógica" da salvação – se abdica dum “martírio” escondido e discreto, por uma caixa de esmolas em mogno envernizado.

Na "lógica" do ciúme - quando se abdica de um amor não correspondido, por uma amizade impossível



Agora muito mais difícil que este devaneio é dar uma alternativa ao registo ( ou método, ou via ) consensual...

Mas vou dar:



Parto de um pressuposto : o equilíbrio não é uma variável, nem pré-definida, nem crítica, nem essencial ao sistema. Os graus de liberdade não têm restrições. ( Bem...daqui a bocado pareço aquele blog do “gajo” operador de sistemas...)



Quando o sistema tender para o vazio, opto pela: Manutenção da contradição, se bem que em serviços mínimos

Quando o sistema tender para o domínio de uma das partes, opto pela : Troca de favores com a parte dominante.

Quando o sistema tender para a irresolução ( ou também chamado conflito), opto pela : Procura rápida de aliados, também designados por "argumentos falaciosos", e ver no que dá até à próxima etapa..

Quando o sistema tender para a indiferença ( quando qualquer resultado é irrelevante para as partes e para o sistema), opto pelo: Reforço das diferenças, procurando-as ainda mais afincada, exaustiva e até artificialmente, porque aparentemente as existentes não eram suficientes

Quando o sistema tender para a anulação das partes, opto por : Tentar arranjar uns momentos livres para um último desejo, e uma reconciliação da alma com o grande, e proporcionalmente misericordioso, Juiz.



Conclusão :

Há alternativas ao consenso: válidas, profícuas, estáveis qb, estimulantes e ...espantemo-nos ... reais.

bem...isto já deve dar para uns dias...

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