A história e a ficção estão recheadas de senhas,
contra-senhas, chaves, & abracadabras diversos, mas nenhum chegou aos calcanhares
daquele que se revela o mais potente de sempre: ser de esquerda.
Não é difícil constatar que basta alguém ter essa etiqueta
para que qualquer merda que faça, diga, insinue, expire, gagueje, bufe ou pense
esteja corporativa e automaticamente defendido por uma auréola que nem os mais
famosos santos de altar.
O estatuto desse carimbo já não é só de natureza politica, a
real origem deste fiambre, mas assumiu-se naturalmente como moral, para não
dizer religioso. Vendo bem, mais que superioridade moral é já uma propriedade
química.
No fundo ser de esquerda está para a sociedade como a
vaselina para a cópula, torna tudo mais fácil, diria mesmo que é uma imbatível combinação
de vaselina e viagra, um graal para a credibilidade, aceitação e
reconhecimento. O faz força que eu gemo
transforma-se num é de esquerda que eu
gemo.
E assim a escardalhada
anda feliz, encorpada, muito senhores da sua tripa pois seja o que for que
bufem haverá uma corte de basbaques que inalará feliz e gratificadamente.
Atarrachados pelo fisco, ok, mas é de esquerda, 6 meses para
uma consulta, ok mas vá lá é de esquerda, assaltos em roda livre, ok mas é de
esquerda, transportes públicos todos podres, vá lá, são de esquerda, sodomizados
a sangue frio, ok, o mas colhão que mandava era o de esquerda; qualquer pedra
filosofal comparada com isto parece pedra-pomes.
Mesmo que o esquerdismo tenha sido condenado à grande porra
da história, ele acabou surgindo por entre as cinzas transmutado numa categoria
que não se via desde a pura lã virgem. A camisola é feia como a merda, ah, ok,
mas é de cachemira. A grande ignorância parola-universal adoptou o esquerdismo
como o novo chá de cidreira.
Não sei sequer se aqui houve algum mérito de manipuladores profissionais
ou se foi apenas a ignorância a fazer o seu caminho normal, derrubando
obstáculos com naturalidade, acabando com a caspa e o cabelo oleoso sem
precisar de se lavar o cabelo.
A esquerda, derrotada pela história, pelo bom senso,
inclusivamente pelo espelho, encontrou o seu caminho de braço dado com o vidal
sassoon.
O corno da sorte foi destronado pelo agora mais famoso dos
amuletos: ser de esquerda. É aguentar até se extinguir como o marfim.