A sorte grande de um homem dá-se quando lhe sai uma
mulher-de-tragédia. Ou melhor, de trajédia, sim, uma mulher que se saiba vestir
de sofrimento & vingança mas toda ela seja estremeções de ironia por
dentro, uma mulher que se ria – a bom rir - da nossa inferioridade e que pareça
sofrer com isso como se o mundo lhe estivesse a ser cruel e nós – por isso - merecêssemos
uma dor sem alívio. Não há orações nem santos específicos para que nos saiam na
rifa esses tipos de mulheres - nem seriam rezas fáceis - mas devemos fazer um
esforço. Há mulheres que parecem banais máquinas de frivolidade mas que a
conseguem transformar em veneno de ratos apenas com dois suspiros e muitas
vezes nem sequer apanhamos a brisa do pestanejo porque já fomos colhidos e
atirados para a berma. Aquilo a que se pode chamar paixão masculina geralmente
dispersa-se muito. Mantemos a fama de caçadores mas não passamos de
varejadores. Poucos merecemos uma mulher que nos faça sofrer em condições e que
se vingue em nós de todas as afrontas que a humanidade lhes fez quando se acasalou
com a civilização sem dar cavaco à natureza.
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